Wavering Paths

Relembrando a primeira mensagem :

* Suspirei levemente e assenti ao meu motorista, saindo do carro preto e espreguiçando-me, pondo a mochila às costas e dirigindo-me à minha sala, cumprimentando algumas pessoas pelo caminho com high-5 e coisas do género. Chegando à sala, entrei sem cerimónias e pousei a minha mochila sobre a mesa partilhada, logo indo buscar um par de luvas de borracha, óculos de proteção e uma bata de laboratório, voltando ao meu lugar e vendo que o meu colega de carteira tinha também chegado. Sorri, mais entusiasmado, e passei um braço pelos seus ombros. *

- Boooom dia, Nacchi! Como estás hoje? - * Perguntei, observando o seu rosto, com um sorriso automático no rosto, símbolo de boa disposição matinal. *

* Assenti, sorrindo levemente e aceitando a comida. Peguei numa colher e comecei a comer, mergulhado em silêncio, absorto nos meus pensamentos. Pensava em mim, nele, na minha família, no dia de amanhã. Comi calmamente, a minha boca aberta apenas para receber mais sopa, e eu parecia que não estava ali realmente, ausente. *

- Nee, Nakano... - * Chamei o seu nome baixinho, sério e pousando a colher na tigela. *

- Tu... Não te vais embora, pois não...? Não me vais deixar, pois não...? - * Perguntei, com incerteza, olhando-o com um sentimento novo no olhar. Não era culpa nem tristeza. Era uma esperança medrosa, aterrorizada com essa possibilidade. *

O silêncio perto dele não parecia algo ruim.
Não era algo realmente incômodo, estava mais para algo reconfortante.
Sei que quando ambos nos calávamos na presença um do outro, estávamos pensando um no outro, e isso de longe era ruim. Era... Uma calmaria difícil de explicar no fim das contas...

Quando ele tornou a falar no entanto, a colher que ainda se mantinha na tigela, intocada, ficou a poucos sentímetros de distância de meus dedos, que acabaram por nem relar na mesma.
Me virei em sua direção, o encarando sem entender a pergunta repentina, mas no fundo conseguia compreender seu sentimento naquele momento.
Não era uma pergunta literal. Ele apenas precisava de conforto e eu podia fazer isso por ele com certeza.

- Eu... - engoli a seco naquele momento, as palavras mais difíceis de sair do que eu imaginei. - Eu nunca vou embora, ta ok? Enquanto eu puder ficar com você eu vou, já até disse que a gente vai fazer faculdade juntos. - meu sorriso era sincero, mas doloroso por saber que isso eram apenas mentiras brancas.

Ninguém focava junto pra sempre.
Nenhum amigo, namorado, esposo, filhos, ninguém jamais cumpria com essa promessa e era da natureza humana.
Apenas queríamos nos proteger na ideia de ter quem amamos por perto para sempre, mas as pessoas mudam e acabam indo embora...

Bom...
Ao menos agora eu podia dizer para ele que eu não iria embora.
Não tinha pra quem ir embora, nem pra onde ou um por que.
No momento tudo o que eu tinha era ele...

- Tudo o que eu tenho agora é você... Não posso ir embora assim... - disse mais baixo, finalmente desviando meu olhar, encarando a sopa que parecia as águas calmas de um lago.

* Assenti levemente, ouvindo as suas palavras, o que foi difícil pela maneira como o meu coração batia rápido. Acabei de comer e suspirei, pousando a tigela sobre a mesinha de cabeceira. *

- Desculpa todas as perguntas, Nacchi... Eu só... Bom, estou doente e não consigo pensar direito, nem fechar a boca a tempo nem escolher as palavras corretas... Desculpa pelo trabalho... E obrigado... - * Dei um sorriso pequeno mas gentil, cansado, mas acima de tudo honesto. Fechei os olhos e inclinei-me, pousando a cabeça no seu braço, apenas descansando, ambos agora num siléncio fresco e calmo, sem indícios de drama, apenas um dos momentos em que sabíamos ficar calados e aproveitar a presença um do outro. No entanto, uma ideia surgiu na minha cabeça, repentinamente, e eu sentei-me. *

- Oh, é verdade!! Um segundo! - * Fui até à minha mochila e vasculhei-a até encontrar o que procurava. Assim, coloquei o que precisava no microondas durante uns segundos e tirei-o, já quente. *

- Tcharan! Um bolo de mochi diretamente da minha cozinha! Trago sempre um comigo, pensei em partilhá-lo! - * Parti a bolacha macia e húmida em metade, com o recheio esticão de mochi a ver-se no meio,mdando-a a ele. A bolacha em si tinha a forma de uma flor de ameixeira. *

*Corria pelo os corredores,com uma torrada na boca pois,estava muito atrasado para o meu primeiro dia de aula*

-waah eu espero que os professores não briguem comigo ;-;

*corro mais ainda em direção a sala de aula até que....*

-KYAAAH!!...Ouch itai.

*Caio sem querer em cima de meu joelho,enquanto gemia um pouco de dor e coloco a mão na ferida*

-arg..que dor >_

O encarei por um tempo, quase rindo do menino.

Sinceramente ele não tinha que pedir desculpas de nada. Entendia que quando ficávamos doentes ficávamos mais sensíveis e isso era normal.
Mas ee nem ao menos deu trela pra eu dizer mais nada, transbordando aquela alegria de sempre, como o bom e velho Miki sempre fazia.

Abrindo um sorriso enorme, peguei o prato levando até encima da mesa.
Corte doos oedaços pra gente, oferecendo um pra ele.
Sempre soube que esses eram seus preferidos de qualquer maneira. Ele sempre comoa os mesmos.

- Não se preocupe com nada Miki, não tem que dar explicações pra mim, só te digo isso. - com um sorriso ainda maior, afaguei seus cabelos castanhos.

É...
No fim ele me fazia mais bem do que queria acreditar e isso vinha me assustando um pouco....

(Off: Quem é o intrusinho?)

* Sorri levemente e assenti, comendo calmamente a minha metade do bolinho, aproveitando e apreciando a calma. As poucas horas que se seguiram foram calmas e passadas em silêncio e conversas curtas e triviais, mas agradáveis. O meu telemóvel tocou e eu desliguei a chamada no segundo em que vi quem era, guardando-o na piscina. *

- Hm... Tenho de ir... Vens comigo até ao carro...? - * Perguntei, vestindo o meu casaco e dando-lhe um leve sorriso. *

As poucas horas de tempo livre que tínhamos, pois bem, não iríamos a aula aquele dia de qualquer forma, foram apenas jogando conversa fora.
Parecia que, entretía-mos tentando não tocar no assunto dos problemas que nos perturbavam, e isso pra mim foi até que algo de bom. Esquecer as vezes o que nos trazia problemas era necessário.
Mas quando a hora de ele ir chegou, senti um peso no peito, como se quisesse dizer algo que não saía de minha boca.

"Fica mais um pouco..."
"Tem que ir mesmo?"
"Não qiero ficar sozinho..."

- Miki... - antes de ele sair pela porta, me levantei, sem olhar nem sequer uma vez para ele. - Miki, se tiver qualquer coisa te perturbando, sabe que podenfalar comigo não é? - finalmente levantei o olhar, encarando-o com certa preocupação. - É sério... Sabe que eu não vou te julgar por qualquer que seja o motivo... Se precisar conversar com alguém eu vou sempre estar te esperando aqui então, não guarde os problemas pra você ok? Não quero que acabe... - como eu? - Não quero que fique mal... A gente é amigo e amigo serve pra isso. - dei um pequeno soco em seu ombro, brincalhão, aquele sorriso indoscritívelmente doce nos lábios.

* Suspirei pesadamente e ajeitei a mochila no ombro. Pousei as mâos nos seus ombros com um pouco de força, olhando-o firmemente. *

- Nacchi... - * Rapidamente coloquei as mãos nanwua cabeça e comecei a desarrumar severamente os seus cabelos. *

- Tu pensas demaaaaaais!! Eu tenho completa consciência disso Nacchi! És quem me percebe melhor... És o único ou dos únicos em que posso contar... Agora vá, o Nobu e o Yamazaki já sevem ter chegado e devem ter-me marcado uma consulta no médico... Ah, e carrega o telemóvel! Vou telefonar-te depois de fazer uma sesta! Vamos, vamooos! - * Ri levemente e coloquei-me atrás dele, empurrando-o para a saída, apertando reconfortantemente os seus ombros. *

Fiquei surpreso quando começou a bagunçar meus cabelos.
Pra falar a verdade, meu rosto corou na hora, ficando mais vermelho que um tomate.

Era engraçado como as vezes ele me pegava de surpresa assim.
Era bom no entanto ter esses momentos com ele. Ambos tínhamos ficado muito tensos desde que ele começara a passar mal, e vê-lo sorridente agora me fazia suspirar aliviado.

Assim que foi me empurrando pra porta no entanto, meu coração acelerou um pouco mais, pois, eu jamais havia visto ninguém de sua família, ou amigos, seja lá o que for.
Nunca nos oegamos conversando muito sobre o assunto.

- E-ei, calma! Quando você volta? E se tover alguma coisa errada contigo? Eu quero saber o que o médico vaj dizer! Miki, não mente pra mim, se alguma coisa acontecer me avisa de verdade!

- Eu devo ficar de cama no máximo unsb3 dias, Nacchi... Vou beber muita água, comer direitinho e ligar-te nas pausas do horário, não te preocupes tanto! Eu vou lá, faço a consulta, vou para casa, tomo os remédios, durmo um pouco de quando acordar falo conrigo! - * Chegando ao portão da escola vi um carro preto abrandar e logo um homem saiu de lá: alto, de terno, e abriu-me a porta traseira, segurando a minha mochila. *

- Perdão pela demora, Miki-sama. Vamos, estamos atrasados. - * Assenti e virei-me para o Nacchi, dsndo-lhe um abraço forte e carinhoso antes de me afastar. *

- Eu volto não tarda, vais ver! Vá, cuida-te! Falamos daqui a pouquinho. Tchau!! - * Acenei de dentro do carro enquanto arrancava, acenando até o perder de vista. *

Estava me preocupando demais.
Miki estaria com sua família, e eu não tinha o que temer sobre isso.
Era natural que ele quisesse ir pra casa se estivesse doente, apenas... Me assustei ao vê-lo naquele estado.
Mas agora estava tudo bem e iria ficar tudo bem.

Ambos fomos pra fora, estava um pouco frio eu diria, mas nada que um cruzar de braços não resolvesse.
No entanto, quando vi as pessoas que vieram lhe buscar, me senti um pouco incomodado.
Eram dois homens grandes e de aparência um pouco intimidadora... Não pude deixar de encará-los com disconfiança, mas novamente podia ser apenas eu enfiando lorotas na cabeça.

- Ahnm... - abri a boca pra dizer algo, mas na verdade não saiu como planejei em minha cabeça. - Se cuida... Eu te mando mensagem depois. - acenei, um sorriso fraco nos lábios.

Me sentia inseguro...
Agora sim ficaria completamente sozinho na escola.
Eu não sei o que poderia fazer, estava com medo de algo de ruim acontecer a ele ou comigo...
As coisas andavam muito agitadas dentro do meu peito...

- Mrn... Haa... - *Virei-me para o lado na cama, afundando mais o rosto no travesseiro macio, cobrindo-me com as cobertas. Não havia nada melhor do que dormir na minha cama, em casa... Excepto talvez... Bem...*

- ...Eu tenho de parar com isto... - *A minha voz saiu rouca por ter acabado de acordar enquanto eu corava, levando as mãos ao rosto. Suspirei levemente e estiquei a mão para a mesinha de cabeceira, desbloqueando o telemóvel, sorrindo levemente com uma selfie minha e do Nacchi como tela de password e posteriormente a foto que mais gostei, a que tirámos juntos como samurais no festival da escola. Acedi ao aplicativo de chamada e carreguei no número 5, o meu número preferido e assim atribuído ao seu contacto. o número 2 para o meu pai, o 3 e o 4 para o Nobu e o Yamazaki. Num sítio bem conveniente. Ajeitei-me na cama e puxei para o colo os pequenos manjuus de carne que me tinham deixado faz minutos, para comer, levando o telemóvel ao ouvido enquanto esperava ser atendido.*

Fiquei sem dormir aquela noite.
Depois que ele foi embora da escola, fiquei pensando em um monte de coisas de que não deveria.
Sobre mim, sobre ele, sobre o que estava fazendo com a minha vida.
Quando tudo era silêncio e vazio, não conseguia deixar de questionar as coisas da vida. As coisas ruins da minha vida...

Na cama, olhando para o teto, janela aberta e o vento frio a entrar, fiquei em silêncio por um bom tempo.
Não havia muito com quem falar, então, passava as mãos por meus cabelos, olhos, tentava fechá-los e dormir mas era impossível.
Não entendia, mas todas as noites eram constantemente assim...
Foi quando meu celular começou a tocar.

Era ele?
Sim era ele.
Atendia? Fingia estar dormindo? O que? Pra que fingir? O que eu tinha na cabeça???

- Alô? - atendi afobado, nervoso, nem ao menos sabia o por que...

* Sorri ao ser atendido, o meu peito inflando com um sentimento de alívio. *

- Nacchi! Olá... Haha... Desculpa ligar e esta hora, dormi mais do que o esperado... Estás bem? Soas nervoso... - * A minha voz era rouca e um pouco arranhada, visto estar doente, mas aimda tinha o mesmo tom de sempre. *

Estava esperando a ligação dele.
Sinceramente achava que ele nem ao menos fosse ligar, mas ele havia prometido.

Rolei na cama por um momento, quase caindo no chão.
Fiz uma barulheira danada, mas no fim, lá estava eu sentado na cama, olhando pela janela aberta com o celular na mão.
O vento batia devagar nos meus cabelos bagunçados, fresco a noite.

Finalmente podia ter certeza de que ele estava bem...

- E-eu to legal, to bem, não to nervoso não, hahaha... - ria, nervoso de qualquer forma. - Não se preocupa com ohorário eu to acostumado a ficar acordado uma hora dessas, de qualquer jeito, você sabe. E eu vou ficar um dia sem aula, estão com medo de eu também ter ficado doente.

* Ri levemente com a barafunda que ele fez, imaginando a barafunda que resultara dela. Dei mais uma dentada no pãozinho antes de responder. *

- Fico feliz de ouvir isso... Haaa... Bom, já jantaste? Direitinho? Eu estou a comer uns manjuu... Ah, olha que bom! Assim podemos narrar o dia um ao outro, haha! Será quase como estarmos juntos! ...Falando nisso, Nacchi... Queres que fale contigo até dormires...? Ontem adormeceste, e dormiste bem... Eu não me importo, até me alegro! - * Sugeri, colocando o pratinho na mesinha de cabeceira e mergulhei-me novamente nas cobertas, quentinho e confortável. *

Adimito.
Estava me sentindo sozinho sem ele ali.
Por mais que tivesse um pé atrás com todo mundo que entrava em minha vida, por mais que eu desconfiasse ou tivesse medoem confiar, acabava me apegando fácil demais as pessoas e ele era uma dessas pessoas.
As vezes dormíamos juntos no meu quarto, comíamos juntos, estudávamos juntos, nos divertíamos juntos.
E agora ele simplesmente não estava ali.
Talvez nas férias de verão ele também não estivesse e eu ficaria sozinho com meus pensamentos.
Bom, ele tinha sua família também e eu não poderia exigir nada.

Me ajeitei um pouco na cama, apoiando os braços sobre a janela do quarto.
O vento gelado me fazia aliviar um pouco o peso, esquecer dos problemas, me deixava respirar o ar puro ao menos.
Era o mínimo que tinha pra me acalmar agora.

- É eu comi... - olhei por um instante para a cozinha, pratos e talheres intocados. Mentiras. - Só... - não precisava falar dos meus problemas pra ele... - Só acho que posso ter ficado doente também, haha. Mas foi uma boa desculpa pra ficar em casa um pouco. Sem você eu não sobreviveria as aulas, sabe disso. - ri mais um pouco, passando as mãos entre os cabelos, num suspiro longo. - Logo logo eu durmo. Quero conversar um pouco mais, saber como foi hoje depois que foi embora. Só... Volta logo pra cá... - fiquei em silêncio por um longo tempo até perceber o quanto isso soou estranho. - F-fica o maior tédio aqui sem você, cara! Sério não tem nada de legal pra fazer sozinho... Hahahaha.

* Fiquei em silêncio por um pouquinho e enterrei-me na cama, não sabendo se estava vermelho da febre ou daquilo que ele tinha dito. Só sabia que ao ouvir aquilo queimei por todo e me faltou o ar. *

- Nacchi...? ...Também tenho saudades tuas... - * Respondi, baixinho, envergonhado, tapando o rosto com a mão oposta. O que é que ele diria se me visse assim?! *

- B-bom, eu fui ao médico e ele fez-me uma consulta de rotina e depois fez-me um exame ao estômago... Apanhei uma gastroentrite, espero bem que não te tenha passado! - * Disse, agora um pouco preocupado, brincando com os dedos. *

- Hm... Depois o Nobu e o Yamazaki foram buscar remédios à farmácia e levaram-me para casa... Tomei os remédios e fiquei de pijama, mas depois começou a dar-me tanta febre...! Sério, sentia que ia estourar que nem um milho de pipoca! Bem... O médico disse que um dos remédios fazia isso, então segui o conselho dele e fui deitar-me, e acordei e estou a falar contigo... Foi isso... Ah, é, ainda estou na cama. É quentinha, e confortável, e eu gosto e TENS DE VIR CÁ EUNESTOU MUITO SOZINHO mas não te quero pegar e quero deixar para uma ocasião especial e- Nacchi? Estou?! Falei muito alto...? AI MEU DEUS, DEIXEI-TE SURDO!! NAAACCHIIIIIIIII!! CONSEGUES OUVI-

- "Miki-sama! Mais baixo, por favor! Consigo ouvi-lo da cozinha!!" - * Calei-me ao ouvir amporta ser aberta por uma das nossas criadas, Seiko. Esta tinha os cabelos curtos e ligeiramente ondulados, presos num rabo de cavalo pequeno e puxado para trás por umanfita bonita e elegante. Ela entrou no quarto e pousou sobre a minha mesinha de cabeceira um prato com 5 nikuman acabados de fazer, deixando-me a olhar para aquilo por uns segundos, ouvindo a minha barriga roncar alto. *

- De-desculpe, Seiko... Erhm... Posso...?

- "Pode e deve! Nosso Senhor, o menino dormiu demais! Sei que estava muito cansado e mal disposto, mas deveria ter colocado um despertador para jantar! Enfim... Aproveite o 《lanche》, e diga olá ao Nakano-sama por mim. Boa noite. " - * Assim fez uma vénia e retirou-se. *

- Como...?

- "O menino só fica tão entusiasmado ao telemóvel quando fala com ele, é fácil saber. Agora fale mais baixo e deite-se daqui a pouco! " - * Assenti e acenei, esticando-me para ir buscar um nikuman, comendo a refeição com gratidão e gosto. *

- Bom, já ouviste, não tenho mais como esconder o quão retardado pareço quando falo contigo ao telefone... E tu? Tens algo a dizer, ou mais alguma coisa que me queiras perguntar? - * Perguntei, ainda um pouco corado, esperando a resposta enquanto comia. *

Tive que conter o riso quando ele começou a falar.
Era engraçado vê-lo todo desajeitado e confuso mesmo do outro lado da linha. Rir dele e com ele, me fazia sentir mais seguro, como se Miki estivesse ali comogo do meu lado de verdade.
Embora não estivesse, era nesses pequenos momentos que me sentia bem, mesmo longe.

Fiquei em silêncio por um tempo, ouvindo toda a bagunça do outro lado da linha.
Ouvia vozes, bagunça por todos os lados, o que me fez ficar vermelho de tanto segurar o riso que não me escapou da boca em momento algum.
Quando finalmente acabou pude respirar, finalmente.

- Ta tudo bem? - perguntei, os olhos molhados de tanto rir internamente. - E não, acho que nada de importante pra falar. Meu dia foi chato só isso. - respirei fundo, novamente colocando meus olhos nas estrelas brilhantes no céu. - Eu só fico feliz por seu dia ter sido melhor. Logo logo você volta e a gente fica junto de novo. Não se preocupa comogo, sei me virar, mamãe. - agora sim deixei-me rir finalmente.

* Corei e senti um arrepio pela espinha ao ouvir o seu riso tão diretamente, ficando caladompor uns segundos. *

- B-bem, o que posso dizer? És o meu pintainho... Hehe...! - * Dei um leve sorriso e coloquei os fones nos ouvidos e no telemóvel, podendo assim ouvi-lo e falar com ele com as mãos livres. *

- Olha, Nacchi... Vamos... Fazer uma coisa, pode ser...? - * Pousei o prato de nikuman que devorara na mesinha de cabeceira e arrumei as almofadas da cama para me deitar. *

- Façamos assim... Vamos deitar-nos, os dois, e vamos falando um com o outro, mesmo que coisas sem importância... Eu sei que tu não dormes um pingo e, se eu desligasse, eu ia ficar inquieto a pensar em quando ia voltar e o que fazer, e não ia conseguir dormir... Por isso, vamos falar até dormir, pode ser...? Assim nada nos pode incomodar... - * Sugeri, com um sorriso leve e sereno no rosto, o meu tom de voz calmo e gentil. *

Haha...
Estar ponge dele não era tão ruim quanto eu achei que seria. Ao menos parecia que estávamos conversando com mais sinceridade um com o outro.
Quem sabe fosse a distância? Ou o medo de falar cara a cara que nos impedia?
Fosse o que fosse, ainda assim, falar com ele me fazia sorrir nem que fosse um pouco, pra esquecer dos problemas.
Eu gostava muito dele.
Mesmo que a insegurança as vezes dizia que era melhor não.

Quando ele terminou de falar, me deitei na cama como ele disse, o quarto bem fresco com a brisa, os lençós enrolados entre o corpo.

- Pode ser... Eu não consigo dormir mesmo, e acho que ouvindo sua voz me deixa mais calmo. - sorri sem perceber. - Hoje eu queimei meu dedo na panela. Xinguei Deus e o mundo, haha. Mas eu to bem. - meus olhos aps poucos foram se fechando devagarinho.

- Nossa, a sério? Haha, eu depois trago-te um bandaid de balões, mesmo que a queimadura tenha passado. Temos de mostrar ao mundo a tua coragem, haha...! Woah... Hoje eu vi um cão no hospital... Era enorme...! Era de um senhor cego, era muito bonzinho...! Era daquela raça que nasceu para limpar o chão, dos que parecem esfregonas... Era tão... Woah... Fofinho... Mrn... Nacchi...? Tens frio...? - * Perguntei, baixinho, puxando as cobertas até ao meu pescoço, aconchegando-me, esperando pela sua resposta, com os olhos a fechar. *

Como era engraçado...
Sempre quando ele estava por perto eu conseguia dormir tão bem...
Mesmo que fosse apenas sua voz, já me acalmava de uma maneira tão gostosa, que me assustava as vezes.
Algumas pessoas simplesmente tinham o dom de nos fazer sentir bem... E ele era uma dessas pessoas..

Meus olhos estavam fechados agora, o celular no viva voz bem do lado do meu rosto.
Havia deitado de barriga pra cima, bem relaxado na cama enquanto o ventinho gostoso entrava pela janela.
Ouvia sua voz um pouco distante, mas ainda conseguia entendê-lo.

- Hum... - resmunguei. - Sem frio... Aqui ta gostoso... - dizia sorrindo. - Quando era pequeno sempre quis ter um cachorro... Eu nunca tive nenhum animal... Meus pais sempre eram ocupados demais pra prestar atenção no que eu queria... E eles diziam que eu não cuidava nem de mim, quem dirá de um animal... Haha... - minha voz soava calma demais, vagarosamente sumindo do outro lado da linha. - Eu odeio eles... - a esse ponto estava delirando entre sono e o acordar, que dizia coisas sem pensar, coisas que guardava sempre dentro de mim. - Odeio eles de verdade..

- Aqui também... Quentinho... Hhhn... - * Estava quase, quase mesmo a adormecer, a sua voz sonolenta e bocejos dando-me sono também. Conseguia sentir a minha consicência a deslizar para o mundo dos sonhos, e não tive como pará-la. *

- Também nunca tive um animal... Nâo podia... Woah... Nacchi... Não penses nisso... Eu gosto de ti, é o que interessa... - * Estava já em meio a sonhos, com os olhos fechados e um dos fones fora do ouvido. O meu peito subia e descia consoante eu respirava, e eu roncava bem baixinho, gentilmente. O quão bem a companhia dele me fazia... Queria que fosse assim sempre... *

Podia parecer asneiras, mas o que eu dizia era amais pura verdade.
Nunca tive a oportunidade de falar sobre assuntos tão pessoais, principalmente pelo medo do que iriam pensar de mim, mas agora, com ele do outro lado da linha, parecia mais fácil.
O sono não ajudava também.
De qualquer forma sentia como se fosse explodir se me calasse novamente. As vezes estávamos a ponto de transbordar sem ninguém para ouvir...

- Eu realmente odeio eles... - resmunguei novamente, a voz rouca, manhosa como se estivesse lutando contra o sono. - Nunca me escutaram... Sempre foram rígidos demais, querem que eu seja perfeito e quase me culparam quando souberam do meu problema... - me referia a "doença" que não me permitia concentrar em nada. - Nunca estavam em casa pra mim... Nunca participaram da minha vida e agora me jogam nesse lugar, pra manter as aparências... Não quero ser advogado, merda, eu quero jogar, quero ser eu, não eles... - sentia como se estivesse falando demais.

No fundo sei que isso incomodava os outros.
Todos os meus outros amigos foram embora dizendo que já não aguentavam minhas reclamações, e com ele não iria demorar se continuasse assim.
Era melhor me calar...

Me virei a cama, finalmente me enfiando debaixo das cobertas, o frio me incomodando agora.

- Deixa pra lá... Eu nem sei o que que eu to falando... Me desculpa por falar demais, haha...