Yosuzume x Taichi

Relembrando a primeira mensagem :

Dentro daquele carro, olhando pela janela e vendo as coisas passando rápido do lado de fora, me pegava pensando em tudo.
Toda minha vida até agora tinha sido assim. Corrida. Passageira. Sem muita importância pra dizer a verdade.
Pingando de escola em escola. A maior parte do tempo sozinho. Me virando como podia.
Acho que era a primeira vez que eu e meus pais passanos tanto tempo juntos, mesmo que dentro de um carro durante uma viagem de cinco horas de estado a estado.
Era por um motivo bom, eu acho...

Chegamos na escola, era um lugar bonito, bem afastado da cidade em si, cheio de verde e vida. Ar puro.
Era um lugar bonito, mas me sentia tão ansioso e nervoso...

Na sala do diretor, passamos um bom tempo conversando e me sentia como um réu na corte, sentado entre meu pais, enquanto falavam de mim e de meus problemas.
Até que tudo foi finalmente resolvido, e, chegava a hora de eles partirem e me deixarem para trás...

- Se cuide e se esforce bastante, Taichi. Precisa Se acostumar, por que daqui pra frente vai ser assim pra você. - dizia minha mão, ajeitando minhas roupas, enquanto meu pai terminava de colocar minhas coisas no meu novo quarto. - Sei que vai se dar bem. Seu pai e eu também moramos sozinhos na faculdade, não é lá grande coisa. Você se acostuma.

Sempre me comparando a eles.
Acho que eles queriam ter uma cópia dos dois não um filho...

- Vamos? - meu pi chegou finalmente, olhando para minha mãe, enquanto a mesma entrava no carro. - Fique bem, filho. Não se preocupe com as despezas. Se precisar de dinheiro...

- Já sabe onde achar... - completei a frase antes dele. - Eu sei pai, eu sei...

Ele me olhou por um tempo, depois um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.

- Tchau, filho. Espero que se dê bem aqui.

E foi uma das últimas vezes que ouvi a voz deles.
Acho que, eles nãp me ligariam tanto quanto disseram que iriam...

Nem ao menos havia percebido quando dormi, mas garanto que havia demorado muito para fazê-lo, como sempre.
Era assim todas as noites pra dizer a verdade... Não dormir, ficar rolando na cama, pensando nas besteiras que fiz e as coisas que deixei de fazer...
Remoía todos os dias tudo o que acontecera até agora...

Mas no fim, eu dormi, mesmo tendo pesadelos, eu dormi como pedra e parecia não acordar.
Sentia alguém se movendo perto de mim, mas realmente não conseguia acordar por nada.
Quando ele se sentou perto de mim, imediatamente me virei, esconde do o rosto em suas costas.
Meus pesadelos eram tão reais que choramingava algumas vezes, apertando ambas as mãos em sua camisa.

Parecia que ali tinha conforto.
Ao menos um pouquinho só...

Senti sua respiração quente em minhas costas e suas mãos segurando minha camisa.
Ele havia acordado ?
Me virei me deparando com ele chorando baixinho ainda dormindo.
Um pesadelo talvez.
E altomaticamdnte minha mao foi para sua cabeça acariciando seus cabelos em uma forma acolhedora para acalma-lo.

- calma... está tudo bem.

Continuei com o ato terminando de comer e permanecia a seus lado até que acordasse.

Na maioria das vezes, quando eu acordava nem ao menos me lembrava do que se tratavam os pesadelos.
Eram sempre borrões, alguma coisinha aqui e ali, mas nunca lembranças concretas.
Tantas vezes de sonhos confusos, que me deixavam sentindo mal...
Pra no final nem ao menos serem lembrados direito...
Parecia uma tortura constante, dormir todas as noites... Uma tortura a que eu mesmo havia de achar um modo de parar...

No entanto senti algo a mais naquele pesadelo.
Algo que tentava me arrancar de lá, me deixar em paz...
Os dedos dele passavam por meus cabelos com tanta leveza... Acariciavam os fios prateados com carinho, e logo minha expressão suavizou, minhas mãos afrouxaram sobre sua camisa.
Mantive meus olhos fechados por mais algum tempo, mas, não consegui mantê-los e logo despertei.
Abri-os devagarinho, piscando algumas vezes, tentando entender o que estava a minha volta. Não precisei muito no entanto para vê-lo bem ali do meu lado...

- Yosuzume... - antes que ele pudesse responder, escondi o rosto em suas costas, o abraçando pela cintura. - Hmm...

Fiquei acariciando seus cabelos enquanto pensava no dia cheio que tive ontem.
Em como encara-lo agora...
O que fazer quando ele disser que me odeia e se iria apagar mesmo sua memória.
Só de pensar nessa possibilidade meu peito doia.

Vou ele chamar meu nome é me virei para ele vendo-o acordar.
Mesmo enquanto ele acordava não parei com a carícia e quando ele me abraçou deixei que um sorriso de canto saísse.

- bom dia... - respirei fundo, olhando o pedaço de sua bochecha que não tinha se escondido em minha camisa - você está bem ? Parecia que estava tendo um pesadelo...

Perguntei realmente preocupado.

Poder acordar e ter alguém cuidando de mim, foi a melhor sensação que já tive em muito tempo.
Dormia sozinho. Acordava sozinho. Comia sozinho. As vezes falava sozinho, simplesmente por que meus amigos todos foram embora e meus pais não se importam nem um pouco.
Yosuzume não sabia o quão bem estava me fazendo, apenas por aquele gesto carinhoso que teve comigo...

- Eu tive um pesadelo... - disse baixinho, esfregando meu rosto em suas costas. - Mas eu to acostumado... Isso acontece todos os dias... - disse, os olhos molhando sua roupa.

No fim ele havia ficado.
E não havia apagado minha memória. Sei que ele podia mas não o fez, por que ainda estava em dúvida?
Seria mais simples se eu não me lembrasse, mas, ele queria ir pelo caminho mais difícil.

- Me desculpa... - foi tudo o que eu disse.

Esperava que ele entendesse esse pedido de desculpas.

"Me desculpa por ser sempre tão confuso..."

Eu não iria falar que entendia por que não entendia.
Desde muito pequeno eu fazia de tudo para não ter esses tipos de sonhos muito menos chegar a ter sonho algum.

Ver ele abraçado tão fortemente em mim era... fofo.
Não pude evitar de minha mão descer de seu cabelo e acariciar sua bochecha e orelha que estava exposta.
Porém me contive de me deitar ali mesmo e ficar agarrado a ele.
Isso poderia ser estranho para ele.
E eu não podia evitar de me sentir culpado com o que fiz noite passada.
E isso piorou quando ele pediu desculpa.

- você não devia pedir desculpa... foi eu que, errei e peguei pesado... sinto muito.

A cada palavra fui sincero.
Minha mão repousou sobre sua bochecha enquanto o olhava terno.
No final resolvi ser seu amigo e ver o que poderia acontecer ao seguir esse caminho.

Sei que ele não compreendia direito minhas desculpas.
Era difícil dizer a eu mesmo sobre o que estava pedindo desculpas, mas, no fundo eu sabia exatamente qual era o motivo.
Me sentia culpado por fazê-lo sentir-se mal.
Me sentia culpado por sobrecarregar tanto a situação, por me preocupar tanto, por exigir respostas que ele não tinha.
Eu tinha essa mania de cobrar demais dos outros, e no fim, acabava que ninguém suportava ficar muito tempo do meu lado...
Iam todos embora como todos os amigos que um dia achei que tive...
Não queria que ele se tornasse mais um daqueles amigos, que logo mais nem sequer falaria comigo.
Sei que era cedo demais para querer isso dele, mas, eu me apegava tão fácilmente aos outros e pra deixá-los irem embora era mais doloroso do que eu mentia pra mim que era...

Me sentei na cama, o abraçando pelas costas, com pernas e braços.
Escondi meu rosto em suas costas quentinha, tornando a molhar sua camisa com meu choro.

Tinha medo de ele já estar de saco cheio de mim.
Era um medo constante de perdê-lo por minha própria culpa.

- Não... - neguei com a cabeça, os olhos molhados e inchados. - Eu tenho que pedir desculpas... Eu não posso ficar exigindo respostas suas o tempo todo... Isso é errado, é errado pedir pra você ajeitar tudo, por que eu também tenho culpa nisso... - o segurei com mais força. - Eu só quero que continue sendo meu amigo... Por favor, não me odeie por isso que aconteceu... Eu só não quero que me odeie... Quero que fique do meu lado, por favor, eu não suporto mais ficar sozinho... Eu preciso de alguém do meu lado ou eu... - eu tentaria me matar de novo...

Já havia tentado várias vezes...
Meus pais nunca souberam. Ninguém nunca soube dessas tentativas falhas, mas foi um momento tão desesperador na minha vida que acabei cometendo esse pecado imperdoável...

Quando ele se grudou em mim fiquei paralisado.
Não sabia o que dizer e nem o que fazer.
Apenas fiquei parado tenso.
Assim que ele terminou de falar eu entendi.
Meu corpo relaxou e um sorriso apareceu em minha boca.
Isso me deixou feliz, por algum motivo.

Coloquei minha mão sobre a dele e o soltei de meus ombros aos poucos e me virei para ele.

- assim é melhor para abraçar.... - ainda segurando suas mãos o puxei para mais perto o abraçando, minha mão subia e descia deixando suas costas levemente quente, minha cabeça repousava em seu ombro durante o abraço - não vou te deixar... estarei sempre com você.

Enquanto dizia minha mão desceu uma última vez até a barra da camisa onde veio subindo a mesma.
Repousei a mão na lateral de seu abdômen, entre as costas e a barriga que começou a esquentar.
Minha mão ficou cada vez mais quente ali.

- vai ser como uma queimadura, logo passa. - expliquei enquanto minha mão queimava sua pele em um ato rápido.

Afastei minha mão da região que antes era bronzeada agora tinha um pentagrama esverdeado com a sigla Y no meio.
Com a marca em sua lateral me sentia mais forte e mais conectado a ele.
A marca era muitas coisas, apenas dependia de como eu a queria usar.

- esse é o símbolo de minha promessa - dei um beijinho em seu ombro - mesmo se eu estiver longe vou saber onde você está... ali vai ficar sensível por um tempo, mas daqui a uma semana passa.

Ele não fazia nem ideia do quanto ver seu sorriso me deixava aliviado.
Por um momento achei que ele não aceitaria minhas desculpas, achei que ele fosse dizer "está tudo bem" e nunca mais olhar na minha cara.
Fiquei com tanto medo, mas agora eu podia ver que ele também não o fizera intencionalmente.
Fosse quem ele fosse ou o que ele fosse, ambos havíamos errado naquela história, e ambos nos redimimos por isso.

No entanto havia algo de errado...
Senti seu abraço apertado, me senti seguro nele, no entanto suas carícias foram descendo a lugares onde me sentia desconfortável.
Sua voz parecia mais melódica aos meus ouvidos, me fez arrepiar, ficar vermelho, e logo uma sensação de queimar tomou conta do meu corpo.

- Uhn?!... - choraminguei por um momento, fechando os olhos um pouco nervoso. - Ah?... - fiquei estranhamente intimidado naquele momento...

Ele... O que ele havia feito?
Senti minha pele queimar, ardeu como se estivesse sendo marcada a ferro e mesmo a dor passando depois de alguns segundos, ainda assim machucava, incomodava de alguma forma.

O olhei por alguns segundos sem entender, um pouco assustado com suas palavras doces demais, suaves e de alguma forma, traiçoeiras.
Minha mãl logo pousou sobre o local dolorido, sentindo que algo me marcava ali.
Imediatamente coloquei meus olhos sobre a pele, não conseguindo enxegar exatamente o que é que havia ali.

- O que... O que é isso? - perguntei, um pouco nervoso.

Me deitei para trás o puxando junto.
Fiquei deitado com um braço ainda em volta de sua cintura em um abraço.

- é uma marca... todo demônio adiquire a sua depois que atinge a maior idade, pode ser usada como quiser aí depende de demônio para demônio - dei uma pausa olhando para ele vendo como reagia - sou um demônio da luxúria, essa marca também é o que pode considerar uma marca política... o demonio da luxúria que tiver mais pessoas marcadas ele fica no topo da hierarquia algo como um rei.

Fechei meus olhos me virando de lado agora ficando frente a frente com ele.

- outros demonios usam para fazer contratos com humanos também, porém a única coisa que todas tem em comum é que o demônio e que ele marcou compartilham forças, exemplo... a partir de agora, você terá a mesma força que eu, pode usar meus poderes em outras palavras, estamos conectados... mas é claro, se não quiser posso remover a marca.

Falei o final um tanto rápido de mais.
Ainda tinha coisas que não falei sobre a marca, mas deixei por isso mesmo, seria muita informação para ele absorver.
Porém os mais importantes expliquei, só esperava que não se assustasse quando visse o mundo com os olhos demoníacos como os meus.
Agora veria todos os seres que viviam a nossa volta, porém poderia levar alguns dias até esse poder da marca agir sobre ele.

Realmente era muita informação para se absorver.
Tanto que minha cabeça ficou matutando cada palavra que ele dizia.

Eu tinha a marca de um demônio...
Isso significava que eu estava condenado a ir pro inferno quando morresse?
De qualquer forma minha primeira relação sexual foi com um demônio, e por mais que eu fosse budhista, acredito que estava condenado ao fogo do inferno.
Bom... O que supostamente era pra eu pensar sobre isso?

Fiquei em branco.
Minha cabeça pifou, entrou em curto.
Fiquei encarando ele por um longo tempo, apenas piscando algumas vezes e respirando devagar, os olhos ardendo um pouco pelo choro recente.

Se eu dicesse que não queria a marca, ele ficaria bravo?
Por que pra ele parecia algo muito importante mesmo. Significava muito pra ele não é? Pois pelo jeito que falou comigo, me pareceu ser...
O que eu faria? O que era o certo ou o errado a se fazer?
E por que eu estava me preocupando com questões religiosas, sendo que nunca fui de acreditar nelas?
Talvez por que havia conhecido um fucking demônio!
Agh!

Me deitei de frente para ele, o encarando nos olhos ainda sem saber ao certo o que dizer ou fazer.
Estava confuso sobre tudo isso, sobre o que ele realmente queria de mim, com aquela marca, com aquela proximidade toda.
E o principal...

- V-você é um demônio... - engoli a saliva, nervoso. - D-da luxúria?... quer dizer que... Hum... - desviei o olhar, um tanto vermelho, o rosto esquentando de repente.

Ok, eu precisava processar tudo isso em minha cabeça caso contrário ficaria louco...

O olhei passivo com cara de tédio

- sério que de tudo que te falei só prestou a nisso ?

Sinceramete eu não gostava do que eu era.
Nao gostava de ser um demonio principalmente da luxuria.
Eu só fazia mal aos outros, não tinha ninguem, todos não confiam em mim sem nem mesmo me conhecer
É certo que uma vez ou outra eu digo uma mentira, mas só quando não quero tocar no assunto ou magoar a outra pessoa e ninguém é perfeito né.

Respirei fundo e fechei os olhos antes de reabri-los e encara-lo mais tranqüilo.

- não é porque sou um demônio que sou um vilão... eu nem sou um demônio completo como "minha mãe", eu tenho um lado humano também, eu sou híbrido tá.

Fiz bico com as bochechas cheias de ar como uma criança emburrada.

Quase desabei a chorar novamente quando ele me olhou daquele jeito.
Não queria chateá-lo de maneira alguma, mas era inevitável falar o que me vinha na cabeça.
Quando ele terminou de falar, pulei encima dele, o abraçando com tudo o que tinha.

- E-e-eu não me importo com o que você seja, ta bom?! Eu só achei curioso, não to dizendo que você é ruim! Se fosse ruim já teria meatado, e-e-e me aldiçoado, e-eu não sei! - escondi o rosto elna curva de seu pescoço, tentando me acalmar.

De fato que não estava dizendo que ele era ruim ou algo do tipo.
Mas me assustava... Pensar que a vida toda eu acreditei que eles não existiam.
Nunca pensei nas consequências depois de morrer. Apenas nas terrestres.
E se eu fosse mesmo pro inferno depois que eu morresse? E aquela marca?
E-ele disse que eu poderia... Usufruir do que ele tinha? M-mas isso não era errado?

- E-eu só to confuso com tudo isso, por favor não me entenda mal! É difícil de entender, só isso, mas eu quero entender... - choraminguei, os braços bem apertados em volta de seu pescoço, o segurando com firmeza.

Assenti com a cabeça.
Permaneci ali por um tempo deitado com ele apenas compartilhando o abraço e a compania um do outro.

- se quiser eu posso retirar a marca...

Falei depois de um tempo considerando tudo o que ele havia dito

- N-não! - disse um pouco entusiasmado demais.

Eu...
Me sentia um tanto estranho por conta dessa marca.
Era algo que estava mesmo me deixando assustado, mas... Pra ele parecia tão importante...
E se ele... Não. Nada de "e se ele". Estava fazendo de novo. Colocando os outros acima de mim, me preocupando mais com o bem estar de outras pessoas e esquecendo o que eu sentia.
Sempre fazia isso.
Enquanto todos estavam felizes, eu estava pirando pensando em fazê-los felizes.
Haaah...

- Eu... Não entendo direito o que é essa marca... - toquei o lado de meu corpo, um tanto envergonhado ou amedrontado. - Não quero... - me tornar um demônio? - Não quero mudar... Eu tenho medo... Mas é importante pra você, e você disse que liga as pessoas a você... Se eu não tivesse a marca provávelmente não seria nada pra você... - disse tudo, sem conseguir olhar pra ele.

Eu tinha tanto medo...
Era mesmo um covarde.

Peguei sua mão e beijei a palma da mesma.

- mesmo sem ela, você continuaria sendo meu amigo, na verdade você é o primeiro amigo que marco..

Fiquei brincando com os dedos de sua mão intertido em pensamentos.
Eu já havia marcado outras pessoas porém nenhumas dela por amizade.
Fiquei feliz por ele querer ficar com a marca, sorri e o puxei pela pintura juntando nossos corpos em um abraço mais confortavel.

- a marca não vai mudar quem você é, só vai te deixar meia forte e mesmo se eu estiver longe vai saber onde estou, por exemplo se você estiver no refeitório e eu na biblioteca, você vai saber que eu tô na biblioteca.

Dei um beijo em sua testa quando terminei de explicar.