Hide x Ren

Relembrando a primeira mensagem :


O dia mal havia começado, ainda era sete horas da manhã e Ren já não suportava mais. Não tinha conseguido sair de casa na noite anterior e passou a noite inteira em claro se remoendo em seu colchão caro e os lençóis de seda que não significavam nada para ele. Para piorar, ainda teria que ir para a faculdade se não quisesse tomar uma surra logo cedo e isso apenas o frustrava mais. Sua cabeça doía e ele queria fumar.


O berro do andar de baixo o assustou enquanto terminava de vestir a camisa preta, o fazendo suspirar pesadamente.

— Porra, mas eu não tenho um minuto de paz nem pela manhã.

Reclamando para si mesmo ele por um minuto cogita a possibilidade de ignorar e se fingir de morto, mas sabia que seria pior, então, mesmo que a contragosto sai do quarto, caminhando vagarosamente por aquele corredor longo e luxuoso, cheio de quadros caros e arranjos de flor até alcançar a escada de mármore, descendo sem muito ânimo até a sala de estar onde seu pai já o esperava, mas não sozinho.


Franziu o cenho, parando no último degrau da escada e o olhando por um segundo para então desviar o olhar para o segundo homem parado ao seu lado. Ele era um pouco mais alto que o próprio Ren, bem mais forte e com muito mais corpo, vestido em um terno elegante e com uma expressão séria, aparentemente em seus trinta anos. Com certeza era um dos empregados de seu pai, mas não o reconhecia.

Sem muita paciência ele não abre a boca, apenas esboça confusão enquanto esperava que continuasse.


— Meu o que?

Incrédulo o rapaz alterna o olhar entre ambos, sem acreditar no que escutava. Não era como se nunca tivesse tido outros seguranças, mas ele já estava há alguns meses sem e chegou a acreditar que o homem tinha parado com aquela ideia estúpida de o vigiar 24 horas por dia com aqueles cachorrinhos que ele chamava de segurança, mas aparentemente estava errado.

— De novo essa palhaçada? Eu já disse que não preciso disso.


— Não cansa de tentar me controlar não?


— Vai poro inferno.

Sem esperar mais nenhuma ordem apenas dá as costas para ambos, sem se dar o trabalho de cumprimentar o novo segurança, afinal, era apenas mais um pau mandado de seu pai que estava ali para complicar sua vida de merda. Irritado, Ren sobe as escadas de novo, voltando ao quarto para pegar sua mochila, afinal, não conseguiria escapar daquilo, ao menos, não agora.

Apenas continuo ali em silencio, hora ou outra bebericando o café enquanto sentia o tempo passar, logo, ouvindo mesmo que sem intensão aquela conversa cheia de mentiras dele, que o faziam querer massagear as têmporas de novo e suspirar, que homem complicado, isso porque namorava o outro.

Ao menos ele estava tomando aquele achocolatado, o que era bom já que Hide suspeitava que ele não tinha comido o seu almoço, logo, apenas terminando aquela latinha de café e se aconchegando naquele sofá, em silêncio, já que queria dormir, quietinho já que ps barulhos do hospital funcionando já eram o suficiente para que tivesse um pouco de dificuldade.

No dia seguinte, acorda um pouco atordoado observando o ambiente e esfregando o rosto, ainda sonolento, era um cara grande e precisava dormir bem para se recuperar, o que não tinha acontecido já que dormir sentado era uma merda.

Logo, uma medica entra no quarto, com uma prancheta em mãos e duas cartelas de remédio.


Naquele momento Hide apenas se manteve em silencio, ganhando a atenção da moça provavelmente pelo seu porte naquele sofá, além de suas roupas escuras que não combinavam com o ambiente branco


A mulher não parecia se importar em chegar perto daquele garoto que com certeza a morderia sem pensar duas vezes, apertando a bochecha do outro como quem faz com uma criança e interagir ali, ela parecia ter certo carinho por ele, talvez, por ser uma medica e saber que as entradas que ele dava eram em sua maioria das vezes, culpa de outra pessoa.

Hide, naquela situação apenas permanece em silencio, respondendo quando a mulher pergunta pelo seu nome e voltando a ficar na sua, afinal, parecia errado se intrometer.


Era bem obvio que aquilo não eram ferimentos de escadas além de que nem Hide teve tempo de falar e muito menos Ren sobre como aconteceu, o que fez Hide pensar por um momento, se assustando com a hipótese que lhe ocorreu. A mulher que acompanhava Ren desde criança era provavelmente mais uma das pessoas que ignoravam o que estavam bem abaixo do seu nariz, ou pior, uma das pessoas pagas para ignorar.

Hide sabia que era errado, mas, depois de ligar os pontos obvio que queria confronta-la, porem, mal entendia tudo aquilo e como o proprio Ren havia dito " Não era da sua conta " mas, mesmo não sendo, era terrivel de presenciar, não importa o quão ruim ele seja, aquilo era pior.

Fazia algum tempo que eu não conseguiu dormir daquele jeito, sem medo de acontecer algo no meio da madrugada, mas, quando acordo e vejo aquela médica entrar, meu humor piora novamente. Eu odiava aquela falsa preocupação dela e provavelmente falsa simpatia, então, quando se aproxima para apertar minha bochecha apenas faço uma careta irritada e me afasto de sua mão.

Escada. Então foi isso que ele a mandou dizer dessa vez? Era ridículo como isso não fazia sentido, já que nem eu e nem Hide tínhamos falado sobre o que aconteceu e eu não acho que ele mentiria dessa forma tão baixa. Quando ela sai, apenas olho para ele sem muita emoção.

— Como eu disse, a palavra de uma vadia não serve de nada.

Me levanto da cama mesmo que minhas pernas ainda estivessem meio bambas e sigo ao banheiro com a única muda de roupas que eu tinha, as mesmas de ontem, sujas de sangue. Não era como se eu tivesse muita opção nesse momento.

Me troco, observando por um momento aquelas novas marcas se misturando com as anteriores. Eu ainda me pergunto como alguém consegue tocar em mim com esse corpo tão marcado e repugnante. Tentando deixar aquilo de lado apenas volto ao quarto, suspirando um pouco.

— Vamos embora.

Eu precisava urgentemente de um banho, me sinto nojento, com essas roupas manchadas e a ponta da minha franja ainda grudada de sangue seco.

Hide sabia que todos ali pareciam ter algo contra Ren por conta de seu pai, aos poucos, parecia se desenhar toda aquela situação na sua cabeça, principalmente ao ver o homem a sua frente se levantar devagar, com a camisola que ia até os joelhos exibindo mais cortes e cicatrizes velhas e novas naquele corpo que no atual estado de fragilidade parecia querer quebrar a cada passo sem apoio, com certeza se ele fosse menos orgulhoso deveria ter pedido por ajuda.

Logo, apenas o espera ali, ainda sujo com o sangue e um pouco fedendo já que cheiro de sangue não era tão agradável ao seu olfato, apenas vendo o garoto se aproximar novamente já vestido com as mesmas roupas de ontem, afinal, eram as únicas que tinha ali.

Apenas andam até o carro devagar, Hide apenas tentava acompanhar o passo do outro que parecia pisar em vidros ali, logo, dirigindo até a casa do mesmo para estacionar o mais próximo da entrada, afinal, ele estava bem mal, olhando para ele antes que saísse do carro

- Tem certeza que consegue andar até seu quarto sozinho ? são muitas escadas, você não parece bem.

Agora que o efeito dos remédios estava passando se tornou um pouco mais difícil para que se locomovesse, mas não era seu pior estado, então, segue ao carro por si só.

— Já estive pior, eu consigo.

Responde sem se dar muita importância, abrindo a porta e saindo do carro.

— Só deixa eu me apoiar.

Não queria cair no meio do caminho, mas também não queria ser tocado e carregado então apenas espera pelo segurança para que pudesse segurar em seu braço com um pouco de apoio.

Enquanto caminhavam em direção a porta, ela se abre, saindo de lá seu pai, fazendo seu sangue gelar um pouco. Com calma se aproxima parando a sua frente e inspecionando um pouco seu estado antes de segurar suas bochechas com a mão e puxar seu rosto para vê-lo mais de perto, fazendo o loiro cambalear um pouco para frente e chiar baixinho de dor.


Ele não responde e então é solto, apenas encarando o homem a sua frente ajeitar o blaser.


— Sim.

Claro que ele não faria aquilo, tinha planos para essa noite nem que significasse pular o telhado, mas não havia necessidade de confronta-lo agora. O mais velho então apenas da as coatas e sai, em direção em seu carro.

Ren até tenta dar mais um passo, mas seu corpo inteiro estava trêmulo, só não sabia se era o medo de seu pai ou a falta de alimentação desde o dia anterior, afinal, por mais que tivesse tomado soro aquilo não era comida.

Hide sabia que ele era orgulhoso, mas, ao menos tinha aceitado que pudesse servir de muleta, o que já era um começo entre tudo que estava acontecendo com ele, já que era mais que obvio que o tanto que tremia mal conseguiria ficar em pé, então, apenas o ajudou quando saiu do carro, de maneira firme, andando pouco a pouco para que não se apressasse até chegar a porta daquela casa, encontrando Sr. Ikeda ali, com a típica cara de poucos amigos quando avistou o próprio filho naquele estado

Ele tinha conseguido sentir o quanto Ren tentava aperta-lo provavelmente de medo, o que só confirmava mais como tudo aquilo não tinha sido feito por conta própria, observando aquele homem sendo tão rígido com o outro, que parecia em trapos, ao menos tinha sido rápido, pensou.

Sabia que Ren estava mentindo pois ouviu outros planos do garoto com o namorado no telefone, mas, obvio que não comentaria nada, afinal, ele tinha adquirido certo receio daquele homem.

Quando queria começar a andar novamente quando tudo aquilo passou, apenas viu como Ren tremia ainda mais, completamente impossibilitado de andar, provavelmente pelo medo do que tinha acontecido, afinal, seu olhar de choque era um dos mais óbvios que havia visto em vida

- Sinto muito

Apenas se desculpou antes de se afastar um pouco para subi-lo em seu colo, deitado para que não fizesse força como antes no hospital, com certeza seria mais rápido assim, além de que, ele conseguiria poupar forças

- Eu devo te deixar na cama ou no banheiro ?

Pergunta, olhando um pouco para baixo no seu colo já que o garoto estava em seus braços, entrando naquela casa de costas para abrir a porta e ignorando se algum dos funcionarios estavam o vendo, não era como se ele se importasse com isso

Se assusta quando é carregado mesmo que tivesse escutado sua desculpa anteriormente, sentindo a vergonha tingir suas bochechas de vermelho, cogitando pedir que o colocasse no chão, mas sabia que se fizesse isso acabaria caindo então apenas aceita calado.

— Banheiro.

Assim que estavam dentro de nada já pode ver o olhar de julgamento dos outros empregados sob si, provavelmente achando que ele estava se aproveitando do segurança ao mandar carregá-lo, acabando então por virar a cara de forma constrangida.

Finalmente passando por sem quarto agora sendo deixado no banheiro, sente certo alívio e então firma seus pés no chão ganhando certa estabilidade para enfim olhar Hide agora menos envergonhado e mais sério como de costume.

— Obrigado, pode tirar uma pausa e ir dormir, não vou precisar de nada, não vou sair daqui.

Mesmo com todos os seus milhares de defeitos, Ren não era uma pessoa ruim e sabia que dormir naquele sofá deveria ser péssimo, e ainda que rico, nunca desejou mal aos empregados. Hide também era uma pessoa e merecia um descanso.

De fato ele não pretendia deixar seu quarto, ao menos por algumas horas, já que acompanhar seu pai naquele jantar estava fora de cogitação.

Logo, apenas prossegue ate o quarto de Ren já que lá teria seu banheiro particular, ignorando os olhares dos funcionarios que ele sabia que estavam errados, Ren tinha seus defeitos, mas ele estava certo dessa vez.

Pela primeira vez, ouviu algo gentil vindo dele, o que mesmo que fosse o basico ainda era um começo, então, apenas se surpreendeu por um momento, se afastando um pouco para observar o rosto do outro, realmente não estava sendo ironico em seu " obrigado "

- Sei que vai sair mais tarde, então, tente me chamar, eu não vou me opor nem avisar a ele, meus serviços são para você, de maneira direta.

Sorri, tentando parecer gentil mesmo que de maneira minima, logo, se virando para ir até a porta, virando um ultima vez para trás

- Se precisar de algo, sabe como chamar minha atenção

Indica, fazendo sinal de apertar um botão ao lado de sua cabeça, enfim, saindo dali em silencio para voltar so quarto que era seu, o dos funcionarios, demorando ao tomar um banho quente já que melhoraria as dores de um corpo que dormiu, logo, deixando seu celular proximo a ele enquanto fechava as cortinas e vestia uma calça de pijama qualquer para ir dormir, afinal, diferente dos outros empregados, ele não trabalhava com horario fixo

Finalmente sozinho, o loiro pôde finalmente tirar aquelas roupas nojentas de sangue e entrar no chuveiro, sentindo o conforto da água quente em seu corpo dolorido, trazendo alívio. Era um dos poucos momentos bons que conseguia aproveitar.

Já limpo, com os cabelos pingando, volta para o quarto e então ao closet para vestir uma calça de moletom qualquer e camiseta, se deitando mesmo que não quisesse. Precisava de um pouco de descanso se quisesse escapar aquela noite.

Cansado, não demora muito a adormecer, acordando desnorteado quando já era noite, perto das nove horas. Tinha dormido muito, mas a hora era boa. Pelos seus cálculos, seu pai chegaria perto das dez horas, quando jantava em casa normalmente ficava até mais tarde na empresa então teria um tempo.

Ainda em roupas casuais, desce as escadas caminhando um pouco pela casa na pretensão de que tomaria água e avisar Hide que não sairia mais naquela noite, o que serviria apenas como uma distração rápida, sabia que ele perceberia sua ausência cedo ou tarde.

Com isso retorna a seu quarto para trocar de roupa, vestindo uma calça preta com rasgos e uma camiseta cinza simples, sem muita produção, apenas queria sair e não estava com tempo de se arrumar.

Pronto, se esgueira pelo corredor e então até a saída de serviço para que os seguranças não o vissem, já conhecendo bem o terreno de casa, caminha pela grama por áreas mais escuras até sair pelo portão e seguir para a rua, acendendo um cigarro e o tragando. Arin que o perdoasse, mas precisava de uma distração urgente essa noite, e ele não conseguiria lhe prover isso.

Já na área mais movimentada da cidade, avista a boate já bem conhecida, seguindo até o corredor lateral na viela e alcançando a porta dos fundos. Já tinha pago uma quantia para poder entrar sempre sem pegar fila, além de ser um frequentador assíduo e conhecido. Não podia correr o risco de ficar demorando em uma fila já que agora tinha um segurança novo em sua cola. Dessa vez um muito mais atento.

O lugar não estava cheio ainda, era relativamente cedo, mas alguém importante já estava ali, o reconhecendo assim que adentrou o lugar. O garoto rico e perturbado comprando drogas não era algo tão incomum assim, e não demora para que Ren já esteja com aquele comprido colorido na língua, seguindo para a pista de dança.

Já sentindo o efeito da droga, se sentia melhor, apesar de seu coração estar batendo de forma engraçada, conseguia esquecer um pouco da dor e dos problemas, aproveitando mais a música alta e a euforia que sentia naquele momento.

Não sabia dizer quanto tempo se passou até que sentisse braços envolvendo sua cintura por trás, colando seu corpo no daquela pessoa enquanto dançava junto até se virar naquele aperto, começando um beijo afoito sem se dar o trabalho de olhar para a cara daquele desconhecido.


Escuta aquilo quando se separam e então olha para baixo notando um saquinho plástico na mão do desconhecido, contendo mais daqueles comprimidos.

— Quanto?


Convites como aquele não eram raros, e não era do feitio de Ren recusar, principalmente com o efeito da droga.


— Feito.

Responde sem pensar muito, vendo o outro sorrir e colocar a droga em sua língua para depois voltar a beija-lo de maneira ainda mais intensa, deslizando a mão por seu corpo o tocando sem muito pudor.


Com sua mão sendo segurada, o segue até a saída dos fundos novamente, esperando que estivessem do lado de fora para o abraçar pelo pescoço, rindo e falando mais alto e de forma exageradamente animada, com seu coração ainda mais acelerado e a visão meio turva, com a cabeça leve, entorpecido.

Havia descansado mais que o normal naquela dia já que estava com sono, acordando apenas para almoçar e um pouco antes das quatro da tarde, logo, se vestindo como de costume com um terno simples em seu horario de trabalho, enfim, saindo para ajudar nos afazeres daquela casa, conhecer os cômodos e tudo que lhe poderia ser util, afinal, ele tinha que descobrir todos os cantos daquele lugar.

Enfim, notando tudo silencioso demais, verifica que ainda se faltava meia hora para o jantar de Ren e do Sr. Ikeda, o que era incomum já que eles já deveriam ter saido, então, decide verificar no celular se Ren ainda continuava ali e para sua surpresa ( ou não) não estava.

O botão do panico servia para basicamente rastrea-lo em tempo integral, além de emitir um alerta se pressionado, então, Hide tinha sua localização a hora que quisesse e assim que percebeu aquilo, se apressou para dirigir em direção a ele, não importa se tinha decido sair, sem ele isso não poderia ter ocorrido, Ren era importante demais para viver normalmente.

O mapa indicava que estava em uma boate da região, uma boate de alta classe onde na propria fila haviam pessoas compartilhando pacotes com algumas drogas, até pensou em entrar, mas dando a volta no quarteirão procurando uma vaga, percebeu que não era necessario, Ren ja tinha " facilitado " seu trabalho e já estava do lado de fora.

Com um garoto um pouco mais velho que ele, se deixando a ser tocado aparentemente pouco consciente, Ren não estava em si e isso era bem visível ate mesmo de longe, então, apenas estacionou de maneira rapida, seguindo em direção aquela saida lateral com medo que algo ruim acontecesse.

Andou rapido até eles, vendo Ren mal conseguindo abrir os olhos, de joelhos, enquanto o outro tentava colocar o proprio membro em sua boca, obvio que não pensou duas vezes antes de partir para cima do homem, o suficiente para faze-lo tentar revidar mas ganhar um soco, sendo assim imobilizado no chão, fazendo Hide descobrir o pacotinho de drogas em seu bolso além de três passaportes, deferindo mais um soco nele, que ainda se debatia


- O quanto disso você deu pra ele ?


Ele não acreditava naquilo, Ren estava quase inconsciente no chão, então, precisava ajuda-lo, dando mais um soco na cara do homem para desmaia-lo, seguindo para Ren, que estava completamente indefeso ali.

- Céus, você tem noção do que ia acontecer aqui ?! Esse homem tem três passaportes falsos só no bolso esquerdo seu estupido, ele poderia ter sumido com você !

Balançava o garoto tentando faze-lo ficar consciente, dando alguns tapas fracos em seu rosto já que o garoto estava tão mal que estava quase babando ali.

A droga já estava fazendo mais efeito do que deveria e aquela altura da noite, Ren não estava mais conseguindo assimilar direito o que acontecia ao seu redor, só sabia que em um momento estava ajoelhado no chão em frente ao membro daquele desconhecido, prestes a chupá-lo, e no outro Hide tinha aparecido e apagado aquele homem.

Ren só sabia que era seu segurança por conta de sua voz e da forma como falava com ele e o balançava tentando mantê-lo consciente, já que sua visão já estava completamente turva. Provavelmente a dose que ingeriu naquele dia foi alta demais para o que seu corpo conseguia em seu atual estado.

— Eu não sei, não estou enxergando.

Estava com dificuldades para falar e não assimilado uma palavra sequer do que Hide tinha lhe dito. Ficava cada vez mais difícil manter os olhos abertos e seu corpo pendia cada vez mais para o lado.

— Meu coração está tão acelerado que eu sinto ele bater no meu ouvido.

Dizia aquilo rindo em seguida como se fosse algo realmente engraçado, ainda sentindo a euforia misturada com todos aqueles outros efeitos.

Não era hora de discutir com ele e Hide sabia disso, principalmente porque o garoto a sua frente estava completamente chapado de tudo o que havia ingerido, além de que, ele não descartava a suspeita que tinha do homem ter lhe dado mais que "apenas um".

Massageou as têmporas pensando no que poderia fazer, se levasse ele para casa naquele estado sabia o que o Sr. Ikeda podia fazer com ele e seu corpo não estava seguro para aquelas marcas de novo, afinal, nada tirava da cabeça que ele era quem tinha feito aquilo.

Logo, pegou o telefone decidindo por fim ligar para ele, respirando fundo.


Sabia que talvez estivesse alto o volume do seu telefone, alto o suficiente para que Ren talvez reconhecesse a voz do proprio pai, Hide até pensou em explicar a situação de maneira honesta, mas, algo naquele garoto a sua frente, sentado no chão sujo, abaixo de peso e se recuperando daquelas feridas o fazia querer evitar aquilo, Hide não entendia, mas talvez o enxergasse como um animal indefeso e assustado.

- Estou ligando para avisar que estamos no hospital, os pontos de Ren não foram o suficiente, terão que refaze-los e ele ficará em observação essa noite


- Sim, obrigado.

Apenas desligou, sabia que o garoto a sua frente, no fundo, agradeceria por aquilo, logo, suspirou de novo, logo, se abaixando ali para tira-lo daquele chão, o buscando no colo, sentindo seu corpo um pouco frio, provavelmente um efeito daquelas drogas.

- Você poderia ter morrido, sabia ? Transar com um desconhecido no meio da rua no seu estado é algo burro de se fazer

Falava praticamente sozinho já que sabia que o outro não tinha forças para responde-lo nem para lutar contra o seu colo, seguindo para o carro e deixando o blazer por cima dele, já que começava a tremer de frio, indo para o banco do motorista e seguindo até uma area residencial da cidade, uma vila simples do local, mas com um ar acolhedor, onde era a casa de Hide.

Logo, o buscou novamente no colo para entrar naquele local pequeno mas arrumado, onde a cozinha e a sala eram praticamente o mesmo comodo, além de um quarto e um banheiro, praticamente a casa toda era o mesmo tamanho apenas do quaeto de Ren, mas, era o suficiente para Hide, afinal, ele dava conta de deixa-la ajeitada e acolhedora, como um lar, com tapetes macios, cortinas e almofadas por toda a parte, uma casa organizada e pequena.

O levou até p quarto da casa onde tinha uma cama de casal, o deixando ali de maneira confortavel, tirando aqueles sapatos de seus pés, carteira e celular de seu bolso e aquele botão do panico, procurando os cobertores no armario

- Pode dormir aqui por hoje, eu irei trazer um balde caso queira vomitar algo

Sabia que estava sendo carregado e levado a algum lugar, mas ainda se sentia confuso e sem forças por mais que sou corpo parecesse acelerado, o que era uma sensação estranha para dizer o mínimo, acabando por se encolher naquele banco, se agarrado aquela blazer por sentir frio.

Não tinha ideia de onde estava, só sabia que agora estava deitado em uma cama confortável e então se agarra a algo que parecia um cobertor, fechando os olhos que já estavam pesados. Só não sabia dizer se tinha adormecido ou perdido a consciência, escutando ao fundo o barulho de seu celular tocar algumas vezes.

Com uma dor de cabeça horrível desperta quando já havia amanhecido, completamente perdido e desnorteado, sem a mínima noção de onde estava e o que aconteceu. Aquela definitivamente não era sua cama, mas de fato, era bem mais confortável que ela. Ainda deitado tateia a mesa de cabeceira ao seu lado, encontrando seu celular, se incomodando quando a luz forte da tela atinge seus olhos. 5 chamadas perdidas de Arin. Não estava em sua casa?

O celular então começa a tocar, o assustando e o fazendo se sentar no colchão, lendo o nome de seu pai na tela e então o atendendo sem saber o que esperar.

— Alô?


— O que?

Sem conseguir raciocinar, ainda sonolento e com uma dor terrível, olha ao seu redor. Não fazia a menor ideia de onde estava então não conseguiria respondê-lo.


Hospital? Mas não tinha deixado o hospital no dia anterior? Seus olhos estavam pesados, sua cabeça doía assim como seu corpo e seu estômago estava horrível. Sem responder, deixa a mão que segurava seu celular cair em seu colo.


Sem pensar muito seu dedo apenas escorrega desligando a chamada.

Depois de vê-lo apenas agarrar o cobertor como um animal de pelúcia, com certeza todas as duvidas que Hide ainda tinha de que ele era sim uma criança se posando de adulto tinham caído por terra, o que o fez pegar um segundo cobertor para cobri-lo já que aquele estaria sendo usado para abraçar.

Ajeitou suas coisas q acabou por dormir no sofá mesmo, agradecendo por este não ser desconfortável ao extremo como o do hospital, no dia seguinte, como sempre, acordou cedo e fez sua corrida matinal, voltando para casa para tomar um banho e verificar o seu "convidado" que estava desmaiado ainda sobre sua cama, talvez babando um pouco, mas sem vomitar ou ter convulsões.

Logo, apenas tomou um banho saindo do chuveiro com os cabelos compridos um pouco molhados e rebeldes colocando qualquer pijama com uma camisa já que tinha outra pessoa em casa, indo preparar algo para comer e fazendo algo para o garoto já que geralmente os dias seguintes eram péssimos para aquela quantidade que havia tomado, preparando um chá gelado e um sanduiche verticalmente cortado, o que lembrava um café da manhã que não fazia a muito tempo para outra pessoa.

Sabia que o outro já estava acordado já que ouviu sua voz, logo, colocando no prato o sanduiche, uma aspirina e um comprimido de vitamina c, seguindo para seu próprio quarto com aquilo nas mãos, vendo o rosto um pouco confuso do garoto, ele não deveria lembrar de nada.

Se aproximou, colocando o prato e o chá sobre o criado mudo, buscando as mãos do outro e deixando os dois comprimidos ali, para que tomasse

- É aspirina e vitamina c, uma vai ajudar na sua dor de cabeça e a outra vai cortar os efeitos mais rápidos, se ainda restou algum.

Se apressa a explicar mesmo que soubesse que o outro tomaria qualquer coisa pelo jeito, já que sua postura da noite passada dedurava que não era nenhum pouco seletivo com o que colocava na boca.

- Não se preocupe, para o Sr. Ikeda você esta no hospital e depois eu te levei para a faculdade já que não queria perder mais um dia de aula, eu vou te levar de volta quando suas aulas terminarem então tem até meio dia para recobrar mais a consciência

Não muito surpreso vê Hide entrar no quarto, claro que ele estar envolvido era a única explicação plausível para o que estava acontecendo. Não que ele nunca tivesse acordado em quartos de estranhos, na verdade aquilo era recorrente, mas nunca coberto daquela forma, sozinho e confortável.

Ficou o observando se aproximar, deixando aqueles comprimidos em sua mão, explicando para o que servia e sem contestar muito apenas toma os dois com o chá.

— O que diabos aconteceu? Como eu vim parar aqui?

Pergunta completamente confuso e desnorteado, forçando um pouco a memória para tentar lembrar do que aconteceu, conseguindo apenas se lembrar do momento em que entrou na boate e se encontrou com o traficante, o que era estranho já que não era a primeira vez que usava ecstasy e normalmente não ficava naquele estado, então, o que mudou dessa vez?

— Aliás, é sua casa?

Se eu tinha acordado na casa de Hide é porque algo muito sério havia acontecido para que não pudesse voltar para sua própria casa.

Hide sabia que acordaria atordoado, então, apenas suspirou fundo, afinal, lhe devia explicações, não deveria ser muito agradável acordar na cama de um desconhecido. Principalmente um de seus empregados.

- Eu te trouxe, de carro

Começou pela pergunta mais simples, se deparando com a outra e coçando um pouco a cabeça, se perguntando como explicaria aquilo para ele.

- Seja lá o que você tomou, era provavelmente algo pra te dopar já que perdeu a consciência e a força das pernas bem rápido, possivelmente um "boa noite, cinderela"

Suspira um pouco, com certeza as condições dele seriam piores se Hide não tivesse chegado a tempo, afinal, além do estupro que estava acontecendo, ele com certeza seria roubado ou coisa pior, acordaria para ser levado em um pedido de resgate

- E sim, essa é minha casa, eu não podia te levar para a sua naquele estado, posso não ter o mesmo status que vocês, mas eu não sou burro, eu sei o que aconteceria se ele te visse daquele jeito.

Mesmo que ainda sentisse uma certa hostilidade vinda de Ren, Hide não desgostava mais dele, mesmo que falasse ainda de maneira seria, ele estava enxergando algo que poucos tinham por ele, aparentemente, estava tendo empatia por ele.

- Agora, coma algo, vai acabar desmaiando se não comer nada pela manhã, e eu te garanto que o gosto disso vai ser melhor que o fastfood de ontem

Ren sabia bem que não tinha sido boa noite cinderela, afinal, ele sequer bebia, além de lembrar do que tinha usado, apenas não entendia como uma balinha só o levou aquele estado. Alguma coisa aconteceu depois e ele não fazia ideia do que tinha sido.

— Se ele me visse daquele jeito ele... Esqueça.

Apenas dá risada de forma meio amarga pensando em todas possibilidades do que aconteceria com ele caso aparecesse completamente drogado. Se não fosse estuprado e acordasse com dor, apanharia até desacordar.

O loiro se vira em direção a mesinha ao seu lado notando um pratinho com um sanduíche ali. Mesmo que não quisesse comer, sabia que desmaiaria por falta de alimentação em breve, então, o pega, dando uma mordida. De fato não era nada ruim.

— Obrigado.

Mais duas mordidas até que seu celular começasse a vibrar indicando diversas novas mensagens, todas de Arin. Suspirou, ele deveria estar o procurando desde a noite passada e lhe devia uma explicação, logo, tomando coragem o liga.


— Oi, me desculpa.


Ele não estava errado em se desesperar daquela forma.

— Desculpe Arin, eu não consegui sair de casa e meu pai tomou meu celular, sabe como ele é, queria que eu focasse no estudo.


— Sobre o que?


— Depois conversamos sobre isso, tudo bem? Preciso sair agora, estou meio ocupado.


— Eu te ligo mais tarde.

Sem esperar uma resposta apenas desliga o celular, largando o aparelho no colchão ao seu lado, terminando de comer aquele sanduíche.

O ouço me responder sorrindo de volta ao ouvir aquele obrigado de maneira gentil, o que era um avanço, pensou, sacudindo a cabeça de forma igualmente carinhosa, uma forma de falar um " de nada " silencioso.

Logo, o deu privacidade ao voltar para cozinha para lavar a louça que havia feito por conta do sanduiche reforçado para o seu convidado, ouvindo a conversa mesmo que não quisesse, provavelmente o namorado que não tinha nenhum noção do que se passava com ele ligando por não terem se encontrado, o que o fazia se perguntar como isso acontecia já que era mais que obvio o que ele passava, ao menos o que conseguia ver a olho nu.

Enfim, com as mãos secas, volta para o quarto entrando devagar caso tivesse voltado a dormir, o vendo acordado ainda, terminando aquele sanduiche por completo, o que era bom, ao menos não desmaiaria de inanição.

- Eu posso fazer outro, se quiser

Comenta, se aproximando do armário de roupas e pegando um dos ternos ali, como todos os outros, quais tinha um para cada dia da semana, buscando meias, a camisa e a gravata, tudo perfeitamente organizado e alinhado ali dentro, que deixava bem explicito ser uma pessoa bem organizada, logo, se aproximando das cortinas para fecha-las mais, tornando o ambiente um pouco mais escuro, mas ainda completamente visível já que estava de manhã, apenas na intensão de deixa-lo mais confortável.

- Pode descansar um pouco mais, eu te acordo quando precisarmos ir, e é melhor desligar o celular, ele não vai parar de ligar aparentemente.

Logo, como se tivesse previsto novamente o celular vibra, contendo o nome " Arin" na tela, o mesmo que havia o ligado tantas vezes.

Era em partes estranho ver alguém o tratando daquela forma, principalmente um dos empregados que sempre tendia a odiá-lo. Ren não conseguia entender muito bem o motivo de Hide estar o ajudando tanto, mentindo a seu pai, o dando comida e um lugar para descansar. Aquilo tudo não fazia muito sentido.

— É o suficiente.

Já foi um progresso conseguir comer tudo aquilo, não conseguiria jamais comer mais ainda. Curioso o observava mexendo no armário tão organizado, notando o quão dedicado parecia ser naquele emprego que para Ren parecia péssimo. Era algo a se admirar afinal.

Com as cortinas agora mais fechadas, não podia esconder que realmente gostaria de dormir um pouco mais, afinal, essa cama era muito melhor que a sua própria, mas, o barulho de seu celular tocando de novo o faz suspirar.

— Se quiser atender e dizer que eu morri.

Incomodado, apenas rejeita a ligação e joga o celular para outro canto da cama, em partes falando sério com aquilo. Não tinha como dizer a Arin que ao invés de ir ao encontro que tinham combinado ele acabou em uma boate, drogado, muito provavelmente o traindo e acabando na cama de seu segurança.

Volta então a se deitar, puxando um travesseiro que estava ali perto para poder abraçá-lo em uma posição confortável, sorrindo de leve com aquilo. Era tão melhor deitar em um lugar onde não se sentia sujo. Não demora muito para que acabe adormecendo novamente.

Hide quase quis rir quando falava quilo sobre avisar que havia morrido, pelo pouco que viu o outro sujeito com certeza ele ficaria algumas semanas chorando em posição fetal, afinal, era mais que visivel quem amava mais naquele relacionamento.

Logo, apenas saiu em silencio, o vendo se abraçar com outro travesseiro de maneira confortável enquanto fechava a porta.

- Durma bem

Não sabia o porque tinha falado aquilo, mas, quando se deu conta já havia acontecido, talvez por força de habito, então, logo fechou a porta para que o outro continuasse a dormir ali, já que realmente parecia cansado e confortável na ultima vez que o viu.

Enquanto esperava, apenas se deitou no sofá da sala para mexer um pouco no proprio celular, jogando algumas coisas, verificando os emails e por fim, curioso, digitando o nome da familia Ikeda no buscador, a fim de saber mais com quem lidava, afinal, vindo da empresa de segurança, Hide tinha apenas acesso as informações de Ren.

Havia alguns sites explicando o sucesso da companhia de propaganda e marketing, como o "chefe da familia" tinha começado de baixo e era genial no que fazia, com diversos clientes de todas as regiões do mundo, um homem " íntegro e bondoso, que doa anualmente milhões para a caridade ", segundo o proprio site.

O homem realmente parecia ter uma ficha exemplar por todos os lados, mas, pouco se falava de Ren e menos ainda da ex-esposa dele, a qual nem o nome era citado, diferente do outro que apenas aparecia em manchetes de escândalo como " Filho de milionário é exposto em video intimo gravado em festa " e " Filho de Satoru Ikeda é visto em festa clandestina ", sempre como " Filho " e nunca como uma pessoa.

Se perdeu em meio as pesquisas até perceber que faltavam trinta minutos para que voltassem para a casa de Ren, onde apenas fechou tudo aquilo e vestiu as roupas rapidamente, seguindo para o quarto, com calma, para acorda-lo, se aproximando para tocar seu ombro, um pouco abaixado ali para que sua voz calma o atingisse.

- Ren, precisamos ir agora, se quiser chegar a tempo

Ele realmente parecia ter um sono pesado, abraçado contra o travesseiro de maneira forte, em sono profundo e quase de maneira adoravel já que parevia tranquilo ali, diferente de quando acordado que sempre parecia pronto para atacar quem se aproximasse.

Acorda com uma mão em seu ombro o balançando um pouco até que abrisse os olhos levemente perdido, mas já se situando ao lembrar onde estava. Não queria voltar para sua casa, sua realidade, mas também não tinha como ficar ali para sempre e fugir daquilo para sempre.

Suspirando um pouco, apenas se levanta, perguntando aonde era o banheiro, o usando rapidamente para então pegar suas coisas e seguir para o carro voltando para casa, no entanto, no momento em que avistou a entrada algo não estava certo.

— Merda.

O que Arin estava fazendo ali? Apressado, esperou que o carro parasse para descer de maneira rápida, vendo o loiro caminhar em sua direção com cara de poucos amigos.


Com uma expressão magoada ao mesmo tempo que com raiva, o loiro olha para Ren, em seguida para Hide e então para Ren de novo.

— Arin, escuta.


— Não foi nada sério.


Ele até tenta alcançar a mão do outro e a segurar, mas o homem apenas age rápido e se afasta.

— Vamos subir e conversar.


— Arin.


Ele estava mesmo fazendo aquilo? Terminando tudo? Surpreso, Ren tenta segui-lo alguns passos quando se afasta, chamando por seu nome meio desesperado, mas desistindo quando percebeu que ele não voltaria. Por mais que não amasse Arin, estava acostumado em tê-lo por perto e era egoísta suficiente para não querer perdê-lo, e vê-lo sair daquela forma lhe causou uma sensação estranha de vazio.

— O que exatamente eu fiz na noite passada?

Perguntou se virando a Hide. Se quisesse contar algo a Arin, precisava antes saber dos detalhes do que houve.

Logo, quando Ren se sentia melhor, partiram para a casa do mesmo, acabando na entrada dos jardins, ainda longe da entrada principal quando viram o tal do Arin, o mesmo garoto de cabelos loiros que mais parecia um cão bobo.

Hide, sem muita culpa ou emoção apenas sai do carro para assistir tudo aquilo, afinal, se o outro fosse para cima de Ren ele não pouparia forças em imobiliza-lo, logo, vendo os dois terminarem na sua frente, voltando a atenção a Ren que parecia confuso ali, só agora fazendo Hide perceber que ele não se lembrava de nada.

- Eu te encontrei numa festa, uma boate não tão longe daqui - suspirou um pouco, procurando as melhores palavras, se apoiando no carro - Não sei o que aconteceu lá dentro, mas, eu te encontrei em uma rua da lateral da boate, quase inconsciente enquanto outro cara tentava colocar o pau na sua boca

Não tinha forma de falar aquilo de um jeito amigável, Ren quase tinha sido estuprado inconsciente e drogado e com certeza as coisas seriam piores se ele não tivesse chegado a tempo, afinal, aquile homem não era só um traficante de festas.

- Eu não sei quantos tomou, mas era um comprimido azul e com certeza era algo para te dopar, já que o homem tinha outros passaportes no bolso, talvez alguém envolvido ao trafico de pessoas ou de órgãos

Era sempre dificil se envolver com esse tipo de gente, Hide conhecia bem de perto essa realidade, então, sabia que podia ser dificil para ele ouvir o quão perto ficou de um abismo que ele não tem a minima noção de conhecimento

- Quando eu cheguei, desacordei ele e te levei até minha casa, onde poderia descansar até que os efeitos do que seja lá o que tomou passasse, foi apenas isso, sinto muito

Sabia que mesmo que falasse apenas isso ainda parecia muita coisa, mas, queria afirmar para ele que eles, acima de tudo, não tinham transado e Hide nem de longe havia o tocado com outros pensamentos, Ren estava fora de si e precisava de cuidados, só isso.

Tudo aquilo que havia escutado era coisas que ele conseguia facilmente se ver fazendo, assustadoramente não o surpreendia em nada, se drogar, se meter com gente errada, quase morrer e quase (ou ser) estuprado. Não seria um susto descobrir coisas como aquela acontecendo, e explicava um pouco mais o motivo de ter acordado daquele jeito.

— Era êxtase, mas eu já tinha usado um assim que cheguei lá, e eu só me lembro das coisas até ai, mas aparentemente eu usei o segundo com esse cara.

Talvez tivesse exagerado um pouco na dose, mas não se importava, não era como se o loiro tivesse medo de morrer por overdose. Na verdade no fundo ele as vezes torcia para que aquilo acontecesse. De qualquer maneira não importava mais, só teria que encontrar com Arin novamente e jogar algum charme para cima dela, não era como se eles nunca tivessem terminado antes.

— Vou para o meu quarto, pode tirar uma pausa.

Com isso apenas da as costas e segue até seu quarto. Precisava de um banho e depois de um cigarro. Ou talvez mais de um.

O restante do dia passou de forma lenta, sem muito o que fazer já que Ren não achava que tentar sair fosse uma boa ideia, até que a noite caiu e com isso seu pai já estava de volta, gritando seu nome do andar de baixo. Respirando fundo, o loiro apenas apaga o cigarro no cinzeiro da varanda e segue para as escadas, as descendo e o encontrando na sala junto a Hide, aparentemente tinha o chamado também.


Com a expressão rígida ele alterna o olhar entre os dois e então o garoto se surpreende um pouco, pensando no que responder e sem pensar muito apenas abre a boca tomando a frente.

— Fui eu. Eu mandei ele mentir, disse que se ele contasse a verdade, eu mandaria o demitirem.

Mentiu o olhando de forma séria para soar convincente, vendo o mais velho levantar uma sobrancelha.


— Desculpe.

Ele suspira, afrouxando a gravata.


— Sim, senhor.


Ele então sobe as escadas em direção a seu quarto, os deixando ali. Mesmo sabendo que aquilo teria consequências, não estava arrependido em tomar a culpa, afinal, não desgostava de Hide e não queria que fosse demitido, afinal, seu pai lhe colocaria outro segurança de qualquer forma e o próximo com certeza não o ajudaria como ele tinha feito.

Mesmo que quisesse, Hide não sabia muito bem o que fazer com tudo aquilo, via no rosto apático de Ren que ele não se importava com isso, como se já esperasse isso dele mesmo e Hide conhecia aquilo, aquela sensação de " nada de novo sob o sol " que o devastou por anos de sua vida, ele queria falar algo, mas não sabia expressar aquilo em palavras, então, quando se deu conta, o garoto já tinha ido, o deixando com a mente repleta de pensamentos bagunçados.

Desistindo de pensar, apenas estacionou o carro dentro do estacionamento da casa, seguindo para seu quarto para pensar um pouco mais, não chegando a nenhuma palavra até ser chamado em seu aparelho até a sala, já sabia que quem dominava a sala não era Ren e sim seu pai, um homem que ele já sentia mais repudio do que respeito a essa altura.

Como sempre ele estava com um ar autoritário e após o discurso, quando Hide tenta se colocar a frente para responder que a iniciativa tinha sido sua, é calado por Ren que leva a culpa de tudo, ainda com o rosto apático e com as olheiras ainda mais fundas, ele não queria que o outro mentisse para protege-lo, mesmo que a surpresa de suas palavras tenham roubado sua ação, ele estava sendo gentil de verdade agora como uma mudança drastica de comportamento, se colocando em perigo por um segurança que até a alguns dias atrás era seu direto rival.

Mais uma vez vê o assunto passar diante de seus olhos e ser dispensado, enquanto processava tudo e via todos saindo, parando para respirar na cozinha até meia hora depois ser chamado novamente, agora na sala de reuniões, o que estranhou já que apenas tinha ido lá uma vez para assinar os papeis de contrato, talvez seria demitido ? no momento, nem perder o dinheiro lhe assustava tanto quanto a ideia de deixar aquele saco de ossos que havia sido gentil com ele para trás.


A sala em questão era uma das poucas escuras da casa, em tom de madeira envelhecida, com muitas estantes e prêmios que ele aparentemente gostava de exibir na prateleira, em destaque, como benfeitor de diversos anos, Hide apenas o obedeceu, se sentando a sua frente, numa cadeira de couro que cheirava a verdadeiro.

Logo, o homem se levanta, virando para trás, na mesinha abaixo da televisão ampla para servir um pouco de whisky com gelo em um copo, se virando para oferecer a ele.

- Desculpe, eu não bebo.

O homem apenas deu de ombros, se sentando ali e bebericando a bebida sem nem mudar o tom do rosto, olhando mais uma vez para Hide, como se pensasse, abrindo um sorriso amplo.


Em partes aquele sorriso incomodava Hide agora, logo, ele retira uma caixa retangular, pequena, menor que a palma de sua mão, a abrindo um pouco e mostrando um pé extremamente branco ali dentro, Hide conhecia isso, era cocaína pura e pelos seus tempos de viciado, julgaria pela cor ser extremamente cara aquele tipo a sua frente.

O homem, que já estava bebendo esfrega um dos dedos ali dentro, passando em sua gengiva que Hide podia vislumbrar já estar danificada por aquilo, virando a caixa a Hide, o oferecendo.

- Desculpe, senhor, gostaria que fossemos direto ao assunto.

Não lembrava quanto tempo mais, mas Hide já tinha prometido a muito tempo que não voltaria mais a aquilo, logo, o homem, um pouco incomodado por não ter agradando-o, fecha a caixa a guardando em baixo de sua mesa novamente, bebendo o whisky e indo direto ao assunto.

Tudo o que passava dos lábios daquele homem agora o fazia querer se retirar dali, mas, apenas continuou o ouvindo, com atenção.

Situação ? Hide ainda o acompanhava com atenção, o vendo se levantar ali e buscando algo em um dos armários, um envelope, o jogando sobre a mesa para que o outro lesse.

Hide não acreditava naquilo já que ele mesmo viu as cicatrizes pelo seu corpo, mas, abrindo aquele envelope, viu alguns papeis alegando aquilo legalmente, receitas de remédios pesados e de terapias, além de históricos de internação em clinicas psiquiátricas, o que o assustou por um momento, mas ainda em silencio, ele sabia o que tinha visto e mesmo que aquilo ali fossem provas bem convincentes, ainda queria escutar o outro lado diretamente de Ren.

O homem parecia confiante falando aquilo de maneira alta, bebendo todo o conteudo do copo por final e o virando na mesa após tomar também o gelo, respirando fundo e o oferecendo uma caneta, arrastando o papel que estava ali o tempo todo e que apenas agora Hide havia o percebido.

Mesmo que ele tenha o mostrado tudo, aquilo no fundo, Hide ainda não se sentia convencido, ter uma familia, uma mulher, ele já tinha tentado todas essas coisas, agora, ele tinha alguém depois de tanto tempo que talvez precisasse de sua ajuda, alguém a quem poderia salvar como não havia salvado a sua propria familia, então, de maneira educada, apenas o respondeu, limpando a garganta antes.

- Desculpe senhor Ikeda, mas temo em informar que não poderei aceitar, estou convencido de que posso continuar servindo seu filho muito bem, mas agradeço sua preocupação.

Logo, em um movimento rapido, apenas se levanta dali, seguindo para a porta mas ouvindo um ultimo aviso, agora em tom de ameça.

Sorriu, agora vendo aquelas garras até então desconhecidas do outros, olhando levemente para trás para ve-lo de pé ainda proximo a sua cadeira.

- Estou sim, Satoru.

Enfim, deixou aquela sala, respirando de maneira funda e seguindo para o jardim externo da casa, se sentando em um dos bancos de tomando um ar depois daquele clima pesado, mesmo que estivesse limpo ver aquela quantidade de cocaina na sua frente ainda lhe parecia tentador, então, para se acalmar, sacou um cigarro de seu bolso do terno, o acendendo, sentado em um banco branco qualquer dali, observando o céu estrelado por um tempo, tragando devagar e pensando em tudo aquilo que tinha visto.

Estava inquieto em seu quarto depois daquela conversa, principalmente porque alguns minutos depois pôde escutar Hide e seu pai passando pelo corredor em direção ao escritório, o que poderia indicar que ter tomado a culpa não havia servido de nada, mas invadir não era uma boa ideia, então, apenas acende mais um cigarro e se senta na varanda enquanto pensava.

Algum tempo depois, começando a sentir que sufocaria naquele lugar, decide que precisava de um pouco de ar se não quisesse ter um surto ou sufocar de uma vez, deixando seu quarto e seguindo até o jardim com mais um cigarro entre os dedos, até que seus olhos veem alguém sentado em um dos bancos, Hide.

Se aproximou, apoiando uma mão no encosto do banco e pulando por ali, sentando-se ao seu lado e chamando sua atenção, ficando em silêncio a princípio, tragando mais uma vez o cigarro antes de abrir a boca.

— Ele te demitiu?

Perguntou com certo receio, jogando a fumaça para longe para depois virar a cabeça em direção ao outro para olhá-lo, sentindo certa expectativa.

Tragou o cigarro cigarro que estava entre seus dedos observando o céu de maneira calma até ver Ren se aproximar do banco, pulando por cima como um gato vadio, o que o fez sorrir por um momento, em silencio, tragando uma ultima vez para apaga-lo no banco, deixando a marca cinza ali para liberar a fumaça para longe, o jogando no cinzeiro ao seu lado e ouvindo a pergunta do outro, que parecia preocupado e o fazia se sentir um pouco melhor agora.

- Não, ele propôs que eu me demitisse, com um bom abono salarial caso aceitasse.

Apenas falou aquilo para assustar um pouco o garoto "apático" ao seu lado, aquilo em seu rosto, mesmo que mínima, demonstrava uma reação de preocupação e tinha gostado de ve-lo assim, logo, pegando o cigarro dos dedos do outro, o tragando para chamar sua atenção.

- Mas eu não aceitei, afinal, se eu aceitasse, suas palavras estariam certas

Sorriu, tragando para longe a fumaça e o olhando ali ao seu lado de maneira gentil, estava cansado, aquela conversa tinha lhe tirado todas as forças, mas por algum motivo, estava feliz de que pudesse conta-lo sobre isso agora

- lembra ? "Será que não vai desistir como todos os outros?", eu falei que estava errado, eu tenho que te provar isso agora

Daquela forma, mais ou menos a unica coisa que entendesse era que ele não estava mais sozinho naquela casa, afinal, ele ainda teria seu segurança de qualquer forma, mais decidido do que nunca em levar as coisas até o final ali.