Hide x Ren

O dia mal havia começado, ainda era sete horas da manhã e Ren já não suportava mais. Não tinha conseguido sair de casa na noite anterior e passou a noite inteira em claro se remoendo em seu colchão caro e os lençóis de seda que não significavam nada para ele. Para piorar, ainda teria que ir para a faculdade se não quisesse tomar uma surra logo cedo e isso apenas o frustrava mais. Sua cabeça doía e ele queria fumar.


O berro do andar de baixo o assustou enquanto terminava de vestir a camisa preta, o fazendo suspirar pesadamente.

— Porra, mas eu não tenho um minuto de paz nem pela manhã.

Reclamando para si mesmo ele por um minuto cogita a possibilidade de ignorar e se fingir de morto, mas sabia que seria pior, então, mesmo que a contragosto sai do quarto, caminhando vagarosamente por aquele corredor longo e luxuoso, cheio de quadros caros e arranjos de flor até alcançar a escada de mármore, descendo sem muito ânimo até a sala de estar onde seu pai já o esperava, mas não sozinho.


Franziu o cenho, parando no último degrau da escada e o olhando por um segundo para então desviar o olhar para o segundo homem parado ao seu lado. Ele era um pouco mais alto que o próprio Ren, bem mais forte e com muito mais corpo, vestido em um terno elegante e com uma expressão séria, aparentemente em seus trinta anos. Com certeza era um dos empregados de seu pai, mas não o reconhecia.

Sem muita paciência ele não abre a boca, apenas esboça confusão enquanto esperava que continuasse.


— Meu o que?

Incrédulo o rapaz alterna o olhar entre ambos, sem acreditar no que escutava. Não era como se nunca tivesse tido outros seguranças, mas ele já estava há alguns meses sem e chegou a acreditar que o homem tinha parado com aquela ideia estúpida de o vigiar 24 horas por dia com aqueles cachorrinhos que ele chamava de segurança, mas aparentemente estava errado.

— De novo essa palhaçada? Eu já disse que não preciso disso.


— Não cansa de tentar me controlar não?


— Vai poro inferno.

Sem esperar mais nenhuma ordem apenas dá as costas para ambos, sem se dar o trabalho de cumprimentar o novo segurança, afinal, era apenas mais um pau mandado de seu pai que estava ali para complicar sua vida de merda. Irritado, Ren sobe as escadas de novo, voltando ao quarto para pegar sua mochila, afinal, não conseguiria escapar daquilo, ao menos, não agora.

Geralmente o dia sempre amanhecia bem rápido para Hide que por conta da sua insônia, mal conseguia pregar os olhos de noite desde que tudo na sua vida tinha virado 360, mesmo que vivesse todos os dias da melhor maneira possível, era difícil que superasse todos os seus traumas da maneira que vivia, " no automático ".

Mas, hoje o dia seria diferente, então, logo cedo já havia levantado da cama para sua corrida matinal já que tinha um porte para manter por conta de seu novo trabalho, segurança de um herdeiro mimado que se coloca em problemas, "uma pessoa que nunca deve ter conhecido um palmo a frente da própria realidade", pensou.

Logo, de banho tomado e terno passado (todo preto como de costume) amarrou os cabelos em um rabo de cavalo e seguiu em seu carro para enfim se dirigir até a casa do contratante, que o recebeu sem muitos sorrisos, pessoalmente, o levando até o salão de entrada daquela mansão que cheirava a riqueza.


Com certeza era uma forma bem rude de tratar o próprio filho, mas, isso não importava já que ele queria apenas fazer seu trabalho bem feito naquela família rica e aparentemente problemática, logo, o "Sr Ikeda" como tinha sido orientado a chama-lo, grita o nome do filho, que logo, com o rosto emburrado, se apresenta, com uma cara amassada de quem pouco havia dormido, borrado de alguma maquiagem escura que tinha sido mal retirada e com os cabelos claros, diferente do homem ao seu lado, que tinha cabelos escuros como o dele, já um pouco grisalhos.

Pelo que tinha percebido, "Ren" era um jovem de pelos seus vinte anos, alto e sem duvida problemático, dos que daria problema sem duvidas


- Não se preocupe, eu não misturo trabalho com vida pessoal, Senhor Ikeda

E mesmo que misturasse, com certeza aquele tipo de jovem não era o seu tipo, arrogante e mesquinho, era isso que se passava nos pensamentos de Hide

Logo, o jovem desceu as escadas novamente com a mochila nas costas, emburrado, eles apenas seguiram em silencio até o carro da casa onde Hide manobrou e seguiu com ele até a faculdade mais cara da cidade, a melhor que o dinheiro podia pagar sem sombra de duvidas.

Estacionando ali, os dois saem do carro enquanto ele mesmo colocava os óculos escuros que afetavam seus olhos sensíveis pela luz do dia.

- Seu horário de saída hoje é as 11:30, se até as 11:35 não estiver aqui na frente, eu irei te buscar lá dentro

Hide falava de maneira rígida já que não tinha gostado daquele cara, que pela sua ficha era de um "risco moderado" a qualquer outro segurança que já teve, afinal, a empresa que trabalhava servia a família Ikeda a bastante tempo.

- E eu prefiro que me chamem de Hide, Ren.

Gesticulou bem a ultima parte como até forma de deboche já que o mesmo nem havia se apresentado para ele de maneira correta ainda, logo, jogando um botão de pânico em sua direção, para que pegasse no ar.

- Se precisar de mim e eu não estiver por perto, é só apertar isso, você já deve saber como um botão de pânico funciona.

Ficou em silêncio o caminho inteiro, sem a menor intenção de começar uma conversa ou qualquer coisa do tipo, mexendo em seu celular e notando algumas mensagens de Arin, sem respondê-lo, não vendo muita necessidade naquilo.

Já do lado de fora do carro, pega o que lhe foi jogado e então encara o segurança com uma expressão indiferente, sem paciência para toda aquela ladainha.

— Não preciso disso e não preciso dos cachorrinhos do meu pai na minha cola.

Ren então da as costas a ele mais uma vez, sem saco para fingir simpatia com mais um empregado que faria qualquer coisa para ganhar dinheiro e a confiança de seu pai.


Ainda perto do portão, mas já dentro do campus, se vira quando escuta uma voz conhecida chamar seu nome, não demorando a ver o loiro de cabelos longos se aproximar sorrindo, parando a sua frente e lhe beijando rapidamente.


— Estou bem, Arin, não se preocupe.

Sem lhe deixar responder, apenas segura sua mão e o puxa mais para dentro do campus até parar quando já se encontravam perto de uma das entradas do prédio.

— Aliás, eu esqueci uma coisa no carro, te encontro no intervalo, sim?


Sem contestar, mas visivelmente confuso o loiro continua seu rumo sem olhar para trás.

— Aula é o meu cu.

Murmurando baixinho ele se vira e segue para os fundos do campus de maneira sorrateira por entre as árvores como já estava mais do que acostumado para não ser visto pelos seguranças, passando pelo jardim abandonado e indo até o muro no canto.

Já tinha pulado aquilo tantas vezes que nem era mais um problema, deixando a mochila em qualquer canto, escalar aquela pedra, a árvore e alcançar o muro para então pular em direção a calçada já na rua.

Despreocupado, com apenas o celular em um bolso da jaqueta e o isqueiro e maço de cigarros no outro, ele retira um e coloca entre os lábios, o acendendo e tragando enquanto caminhava pela calçada, atravessando a rua e se afastando do muro.

A parte do " cachorrinho " o fez rir internamente, logo depois que seguiu o garoto revoltado com olhos até a entrada da escola, suspirou fundo, aquele deveria ser o seu "trabalho facil" por um tempo, um jeito simples de ganahr dinheiro, um garotinho rebelde com crise de jovem adulto, mimado e com a vida ganha que não quer responsabilidades, talvez, ele realmente estivesse ficando velho, pensava, já que aquele tipo de rebeldia o deixava irritado.

Enfim, sozinho, Hide pega um maço de cigarros de dentro do bolso do terno, o acende com o isqueiro do bolsa da sua calça, tocando seu celular por engano e pensando por um momento se realmente esse seria o seu " trabalho facil "

- Obvio que não

Riu, sozinho, acendendo o cigarro e o tragando por um tempo, em silencio e vendo o dia amanhecer aos poucos ainda por conta de estarem no inverno, buscando o celular no bolso para verificar algo, ou mais exatamente alguém, já que o botão do pânico também funcionava como um gps e pelo que ele se lembrava, Ren havia colocado ele no bolso, logo, ao ver o seu alvo se movimentando para longe da universidade, acabou rindo novamente.

- Desgraçado

Estava mais rindo pela burrice de acreditar que ele assistia as aulas, estava era mesmo andando para longe da escola, o que o fez entrar no carro, tirando os óculos e ligar o motor, dando partida atrás daquele garoto problemático e o encontrando a duas quadra já fora da escola, diminuindo a velocidade na rua não tão movimentada e abrindo o vidro, ao lado dele, para que pudesse ouvi-lo enquanto ainda dirigia devagar, acompanhando-o

- Aqui não parece a universidade, Ren

Era bem obvio isso, e mais obvio ainda que Hide não largaria do seu pé, continuando a segui-lo, observando o cigarro em sua mão, alguém tão jovem não deveria fumar tão cedo.

Enquanto caminhava, nota a aproximação de um carro e logo a voz do segurança. Claro que ele não sairia de seu pé tão fácil assim, não estava surpreso.

— Você jura? Não tinha percebido.

O olhou de canto com um sorrisinho irônico nos lábios, terminando de tragar aquele cigarro, jogando no chão, pisando encima e então subitamente mudando seu caminho e entrando na frente do carro, o fazendo ter que frear enquanto atravessava a rua de forma despreocupada sem se dar o trabalho de olhar para ver se outros carros vinham.

Entrou então na rede de fastfood que a essa altura estava vazio, já que apesar de servirem café da manhã, ninguém teria aquilo como sua primeira escolha de primeira refeição ao dia, com exceção a Ren, claro.

Pede um lanche gorduroso e péssimo então segue para a área externa do estabelecimento aonde poderia acender outro cigarro, apoiando um dos pés na cadeira de forma relaxada e sem modos.

Ao ver o loiro se jogar na frente do carro, para de maneira brusca para evitar um atropelamento, mesmo que estivesse devagar com o carro, não conseguindo não se assustar ao ver o resto dos carros também parando quase em cima dele, que recebia alguns xingamentos dos outros motoristas mas não parecia se importar.

- Maluco

Suspira, de maneira pesada estacionando o carro, vendo Ren entrar naquela rede de fastfood barata, era claro que tudo que ele precisava logo cedo era de um garoto com seu show de estrelismo barato.

Enfim, com o carro no seu lugar, também segue para aquele lugar, vendo o garoto na area de fumantes de maneira super mal educada, com uma perna sobre uma das cadeiras, obviamente ele seguiu em direção a área, mas, foi impedido


Obvio que era, pensou, então, penas se aproximou do balcão de pedidos vazios, olhando o cardapio e analisando aqueles lanches baratos e de duvidosa qualidade, que faziam seu estomago revirar apenas de imaginar consumir aquilo

- Eu vou querer isso de frango

Falou, de maneira decida como se soubesse o que estava fazendo, para ser honesto, Hide nunca se interessou muito por fastfoods.

Agora que havia pagado e era um cliente, podia ir ate o local onde ele estava fumando, se aproximando e tirando aquele cigarro de seus labios, o jogando no cinzeiro para apaga-lo, ganhando sua atenção por aquele movimento.

- Não precisa gostar de mim, só precisa me deixar fazer meu trabalho.

Ao menos uma coisa era certa, Hide era sincero e mesmo que apreciasse ter uma boa relação com aqueles que trabalhava, isso não era tão importante assim.

- Eu não vou te levar de volta pra universidade, ao menos por hoje, e se estava com fome, deveria ter falado antes, pouparia essa caminhada e seu quase atropelamento se pedisse para ficar aqui

Ele estava realmente tentabdo entender qual era a do garoto a sua frente, coçando os olhos como se tentasse relaxar ao lembrar que um cliente quase morreu no primeiro dia de seu trabalho.

- E sinceramente, a próxima vez que entrar na frente de um carro a qual eu esteja dirigindo, eu não vou parar

Estava estressado logo cedo, mas, logo viu seus pedidos ficarem prontos, o que o fez olhar de novo para aquele a sua frente.

- Agora, vamos comer, vai ver seu humor melhora com essa comida de merda.

Se assusta quando sente tomarem o cigarro de seus lábios, não se surpreendendo em ver o segurança parado ali com cara de poucos amigos, mas não era como se Ren estivesse se importando com aquilo.

— Pode passar encima de mim com o carro quantas vezes quiser, me pouparia de muita coisa.

Retrucou apenas a ameaça, sem demonstrar muito emoção, ignorando todo o resto daquela baboseira de facilitar seu trabalho. Ninguém facilitava nada para ele, por que facilitaria a alguém?

Enquanto comia aquele lanche que para ser sincero ele nem gostava tanto, seu celular começa a tocar mostrando o nome de seu pai na tela, o fazendo revirar os olhos.

— O que você quer agora?


— Estou.

Se ele estava lhe perguntando aquilo, significava que o segurança ainda não tinha tido tempo de dedura-lo ao seu pai, mas seria apenas uma questão de tempo.


— Pra que?

Toda semana a mesma palhaçada de ficar lhe acompanhando nos negócios como se um dia Ren pretendesse realmente tomar seu lugar na empresa. Com sorte morreria antes de seu próximo aniversário, quem dirá viver o suficiente para se formar.


— E eu tenho escolha?


Levanta seu olhar para o homem sentado a sua frente e então desvia de novo.


— Como quiser, paizinho querido.

Com aquela frase transbordando em ironia ele desliga sem esperar que dissesse mais alguma coisa, largando o celular de qualquer jeito encima da mesa e passando a mão pelos cabelos antes de olhar para Hide novamente.

— Não se preocupe senhor segurança, eu não vou fugir e não vou correr para o meio da rua, ficarei sentadinho aqui como um bom gratuito até dar a hora. Está satisfeito? Ou quer que eu melhore ainda mais seu trabalho?

Fingindo inocência lhe diz aquilo, rindo sorrindo sarcasticamente antes de voltar a expressão vazia de antes, comendo o resto daquele lanche.

Hide, sentado e em silencio com seus doze nuggets a sua frente apenas escuta a conversa de ambos, o que o fazia pensar como o outro poderia ser um pouco mais respeitoso com o proprio pai, ao menos ele ainda tinha um e o respondia como se fosse um monstro

Ouvindo o garoto mais uma vez com deboche, mordeu um dos nuggets fazendo cara de nojo, com raiva, o colocando em cima de um guardanapo ao sentir a explosão de gordura velha na sua boca.

- Sim, estou satisfeito - engoliu a seco aquele gosto horrivel de frango ... ou algo que um dis foi um frango - E pode comer isso, nunca vou entender como as pessoas gostam de fastfood

Logo, aproxima a caixa com os outros 11 nuggets do garoto, voltando a se sentar de forma mais relaxada e mexendo no celular, recebendo uma notificação de onde deveria leva-lo depois, suspirando um pouco e guardando o celular, ele não tinha intensão de dedurar o problemático, não ao menos hoje.

- E eu prefiro Hide, é melhor memorizar, já que vamos passar um bom tempo juntos daqui para frente

Quase quis rir da careta se nojo que fez quando comeu aquele nuggets, mas se conteve em apenas puxar a caixinha para perto quando lhe oferece, pegando um e comendo normalmente como se fosse algo delicioso.

— Será que vamos mesmo, Hide? — sorriu de canto — Será que não vai desistir como todos os outros? Eu não duvidaria, afinal, como dizem os outros seguranças do meu pai, eles preferem a demissão do que cuidar de mim.

Morde mais um nuggets o encarando um pouco por alguns instantes antes de voltar a comida. De fato era comum a Ren escutar as fofocas dos empregados e o que achavam sobre ele, o que nunca eram coisas boas, e não seria surpresa se esse também fosse demitido.

— Não vai me dedurar ao meu pai? Ele acha que estou na aula.

Claro que não queria mais um problema como aquele, mas também não entendia o motivo de o segurança ainda não ter aberto o bico.

Com certeza Hide sabia que aquele garoto seria, além de um teste fisico para ele, um teste psicológico também, já que aqueles sorrisos ácidos estavam começando a irrita-lo agora, enquanto batia um dos dedos na mesa, na mesma frequência que o tic-tac do relogio na parede.

- Eu sou mais preparado que os outros, não se preocupe, eu vou dae conta de um garotinho mimado

Já que seria desafiado, com certeza desafiaria também, pensou, sorrindo da mesma maneira provocadora que o outro, como se estivessem numa queda de braço psicológico.

Ouvi-lo perguntar aquilo o fez rir um pouco, parando para pensar, ele estava o testando ? Com certeza.

- Eu sou seu segurança, Ren, não sua babá, eu vou cuidar da sua segurança e só isso, se seu pai quer achar que você esta na aula, que ache, pouco importa para mim, desde que volte inteiro para casa ou ao menos com os mínimos danos possivel - Suspira, de maneira pesada, colocando o cotovelo em cima daquela mesa e fazendo apoio para seu rosto - Já que a qualidade dessa comida já é uma agressão direta.

O outro a sua frente parecia comer tão bem que ele quase não sentia nojo daquela comida, mas, voltava quando ele apresentava aqueles labios gordurosos quando o lanche estava longe deles.

- Pretende só ficar aqui, nessa espelunca de gordura nas paredes, até as 11:30 ?

Garoto mimado. Aquilo ficava repercutindo em sua cabeça, com certeza era a impressão que todos tinham dele, mas Ren já estava mais do que acostumado e não pretendia mudar aquela imagem. Se queriam acreditar naquilo, que acreditassem, não era como se alguém fosse o ajudar de qualquer forma.

— Agora que perguntou, tenho uma ideia melhor.

Com um sorrisinho buscou pelo celular, mandando algumas mensagens ao mesmo loiro de mais cedo, esperando que ele confirmasse e então deixando o celular de novo.

Alguns minutos se passam até que ele visse a figura alta do loiro passar pela porta e então, com um sorriso Ren se levanta, indo até ele, rodeando seu pescoço com os braços e o beijando.


— Quem se importa?

Dando de ombros ele segura sua mão e o puxa até a mesa onde estava antes, vendo que Arin olha para Hide com curiosidade.


— Só mais um segurança que meu pai colocou atrás de mim, ele não se importa.


Cortando a apresentação amigável, ele empurra o loiro para que se sentasse na cadeira aonde estava anteriormente e então se senta em seu colo, tendo a cintura abraçada pelo outro.


— Não.

Sem deixar que ele dissesse mais alguma coisa, em partes apenas para deixar Hide desconfortável, Ren beija o loiro de forma mais intensa do que deveria, sendo correspondido por algum tempinho até que o outro se afastasse.


Ren apenas revira os olhos com o sermão, conhecendo o namorado bem o suficiente para saber que ele estava igualmente desconfortável por estarem em público.


— E daí?


Sem paciência, Ren segura seu rosto com uma das mãos, apertando suas bochechas de leve.

— Você pode, por favor, usar essa boquinha linda para fazer outra coisa a não ser me dar sermão?

Sem tempo de resposta ele volta a beija-lo como antes, de maneira intensa.

Mesmo o conhecendo a pouco tempo, Hide sabia que ele ter uma ideia não seria algo bom, então, pagando para ver, apenas se manteve ali, imóvel, ate o outro homem chegar, um garoto que parecia um golden retriever ambulante, com um sorriso amigavel demais e um porte amigavel demais, ao contrario dele mesmo ali, que se fossemos comparar, parecia um daqueles cachorros que eram retirados de brigas clandestinas de cães, cheio de cicatrizes e completamente mal encarado.

- Hideki

Não eram um prazer conhece-lo e ele não precisava fingir aquilo, afinal, não era parte de seu trabalho ser simpático, logo, observando aquela cena dos dois quase se comendo a sua frente, o que não o deixava com vergonha, mas, de certa forma, desconfortável já que era obsceno e parecia forçado.

Logo, buscou um cigarro de seu bolso, com a loja vazia, o acendeu ali mesmo sem se importar em ser repreendido pelos funcionarios do local, afinal, ninguém mexeria com aquele cara mal encarado ali, que com certeza não fazia parte daquela cena, ninguem queri acabar sem um dente hoje.

As horas ali, encarando os dois quase se comendo enquanto acabava com o maço de cigarro pareciam dias e obvio que aquele garoto fez questão de passar todos os momentos fazendo sons lascivos em meio ao beijo, eles não eram feios juntos, mas, decidamente aquilo beirava a ser estranho, quase como se estivessem desincronizados numa dança animalesca e ele tinha propriedade para falar sobre aquilo, afinal, ficou encarando os dois por boas horas.

Enfim, quando bate o horario, Hide se levanta da cadeira, apagando o ultimo cigarro no pratinho de nuggets vazio a frente dos dois, ficando ao lado daquilo que quase era sexo em publico, observando o rosto e os labios vermelhos e inchados de ambos. Nojento.

- Deu o horário, Ren, temos que ir.

Ele não estava se sentindo incomodado nem nada, apenas como havia falado que faria, fazendo seu trabalho e ele o faria de maneira digna enquanto estivesse com Ren.

Perdendo um bom tempo ali com Arin, quando percebe já era hora de ir e Hide o chamava, o fazendo se afastar do loiro mesmo que não quisesse. O fundo, só queria que o namorado o tirasse dali e o levasse para qualquer lugar bem longe, mas Arin não faria aquilo jamais.

— Tenho que ir, o grande imperador está solicitando minha presença.

Diz se levantando e dizendo naquele mesmo tom sarcástico de sempre, vendo o loiro apenas concordar com a cabeça e se levantar também.


Por um momento ele apenas o observa, tentando decidir se se comovia com aquilo ou odiava por não sentir sinceridade suficiente em suas palavras, mas ao fim sorri e acaricia seu rosto.

— Tem um rosto bonitinho e angelical demais para esboçar preocupação, não se preocupe, eu estou bem.

Sem lhe deixar retrucar, deixa um selinho em seus lábios para então se afastar de vez, gesticulando a Hide enquanto caminhava até a saída.

Como ordenado, para em casa para vestir “uma roupa decente” colocando então a primeira calça preta e camisa social que encontra no armário, voltando ao carro para que pudessem seguir até a empresa.

Já em frente aquele prédio alto e luxuoso, recebe a mensagem do homem avisando que desceria em cinco minutos e então sai do carro, parando na calçada e se apoiando contra o veículo em frente à entrada, até que avista a figura do pai saindo dali acompanhado de um homem aparentemente da mesma idade que o outro.

— Aqui está ele, meu filho e futuro herdeiro, Ren.

O olhar daquele homem sobre si com aquele sorriso já lhe dá arrepios, mas sem dizer nada apenas se aproxima um pouco dos dois, cumprimentando de forma simples o outro.



A forma como o olho dos pés a cabeça faz seu estômago embrulhar. Desprezível. Não responde e nem agradece, permanecendo calado.


— Se não me deve respeito, para que estou indo nesse almoço idiota?

Era perceptível o olhar de fúria de seu pai sobre si com aquelas palavras ácidas, mas a risada alta do outro homem chama atenção de ambos.


De novo aquele olhar de luxúria daquele homem encima de si e de novo seu estômago embrulha.


Espera que os dois deem as costas e entrem no carro de seu pai para então se virar e soltar o fôlego que não percebeu estar prendendo.

— Acho que eu ‘tô passando mal.

Pensa alto mais para si mesmo, acabando por agachar no chão. Suas mãos tremiam e suavam frio e ele sentia que poderia vomitar ali mesmo. Seu coração também estava descompassado. Tudo o que menos precisava naquele instante era um ataque de pânico. Precisava se acalmar.

Já estava esperando na porta a grande despedida dos apaixonados com mais um beijo caloroso como aqueles quando percebe algo diferente no ar, o tempo de decisão, como se estivesse escolhendo as palavras, aquele garoto realmente estava pensando o oposto do que falava, mas, isso não era da sua conta.

Quando ambos já estavam no carro, Hide penas dirige a casa de Ren, que estava no banco de trás, o levando para trocar de roupas e então seguir ao local combinado, a frente da empresa do Sr. Ikeda onde logo o homem se aproxima com outro de meia idade ao seu lado quando ambos já estavam do lado de fora, obvio que nada daquilo era da conta de Hide, mas, até mesmo um cego conseguiria notar aquele homem comendo Ren, (um garoto bem mais novo que ele) com os olhos de maneira descaradamente luxuriosa, mas, apenas se manteve na sua, os esperando se distanciar para então voltar para o carro, mas percebendo que algo faltava ali.

Quando ia se virar para prosseguir o plano simples de dirigir a aquele restaurante que haviam combinado, Hide vê Ren caindo ao chão, como se estivesse se curvando de dor de estomago, agaixado de maneira bem pequena ali, um pouco tremulo e encarando um ponto fixo no chão.

- Ren ?

Seria algo que comeu ? comer fastfood logo cedo realmente não era saudável, ele com certeza estava passando mal.

- Ren ?

Apenas o chama mais uma vez para ter certeza que ele estava realmente mal ali, abrindo a porta do carro com certa urgência e pegando uma garrafa de agua ali dentro, se aproximando do outro agaixado no chão e deixando a garrafa aberta a sua frente, abrindo a carteira de maneira rápida para buscar um pacotinho de estomazil ali dentro, abrindo aquilo que antes estava lacrado e despejando dentro da garrafa, se aproximando um pouco mais para colocar aquilo nas mãos dele

- Tome isso, pode fazer bem, era meu ultimo pacote, então, se estiver muito fraco, podemos passar na farmácia para comprar mais antes de ir para o restaurante.

Ele não tinha simpatizado com o garoto, mas, era obvio que não podia deixa-lo passando mal daquela forma, principalmente porque não sabia o que estava acontecendo ali já que era nítido que o garoto não estava bem, além de que, ele o conhecia a pouco tempo, mesmo com aquela ficha enorme de avisos, ele ainda estava montando uma opinião sobre ele.

- Quer que eu ligue para seu pai para avisa-lo que esta passando mal ? eu posso tentar te pegar no colo se não conseguir se levantar

Obviamente tentar era uma maneira de falar, já que aqueles aparentemente cinquenta quilos seriam fáceis para ele, pensou.

Percebe a aproximação do segurança tentando lhe ajudar de alguma forma, agindo como se o problema fosse seu estômago quando o próprio Ren sabia que não era nada daquilo.

— Deixa meu pai fora disso, também não preciso que me carregue.

A última coisa que precisava agora era um estranho o segurando. Pega aquela garrafa d’água em mãos dando uns três goles e desistindo, tentando acalmar a respiração desregulada, se levantando quando não sentia mais que cairia ali.

— Vamos logo, eu estou bem.

De pé novamente, Ren segue até o carro, entrando nele e ficando calado no banco de trás como de costume, até que chegassem finalmente ao restaurante, informando o sobrenome na recepção chique e sendo guiado até o mezanino na parte de cima aonde as mesas mais reservadas e importantes ficavam, já avistando a mesa com os dois conversando e uma mesa ao lado com os dois seguranças particulares de seu pai, aonde Hide sentaria também.

Quase se arrastando, Ren se une a mesa, escutando a conversa dos dois sem prestar atenção a nada, deixando seu olhar vagar pelo ambiente enquanto esperava aquela tortura chegar o fim, no entanto, quando achava que não pioraria, ele sente uma perna descaradamente deslizando no meio das suas por debaixo da mesa, o assunto e fazendo dar um pulo na cadeira, olhando para frente para encontrar aquele sorriso nojento daquele homem.

Aquilo foi o estopim. Constrangido e assustado ele se levanta abruptamente da cadeira, espalmando as mãos na mesa e a balançando um pouco, fazendo com que a taça de vinho daquela convidado derramasse sobre ele, ganhando então todos os olhares para si.

— Velho nojento!

Segundos depois e já sentiu um aperto firme em seu braço, seu pai, o agarrando com certa brutalidade mesmo que sou rosto ainda parecesse calmo. Só estava tentando contornar a situação.


Ele queria gritar e dizer o que estava acontecendo, mas de que adiantaria berrar que estava sendo assediado quando seu próprio pai fazia pior?

— Mas-


Silêncio. De cabeça baixa e o corpo inteiro tremendo no aperto que agora o machucava, ele conseguia sentir todos os olhares encima de si, e escutar os murmúrios baixinhos dos seguranças de seu pai. Se sentia humilhado.


— Sinto muito...

Sua voz saía baixa e trêmula, quase inaudível.


Nojo. Era tudo o que conseguia sentir com aquelas palavras.

Obvio que ele só queria ajudar, mas, sabia que aquele garoto não passava de uma criança mimada, alguém que tinha provavelmente até certo nojo dos próprios empregados, pensava, então, aquilo não o importou muito, afinal, sabia que não era pessoal, Hide era "inferior" a ele por não ter os status que tinha e o mundo girava dessa forma, ele jogava essas regras a muito tempo já, mesmo que no fundo, fosse uma pessoa boa e só quisesse socorre-lo.

Enfim, após aquilo apenas se levantou junto a ele, seguindo para o restaurante e parando no estacionamento em silencio, como deveria estar, seguindo com ele já que onde ele iria, teria que estar junto, logo quando chegaram avistaram aquele homem de antes com o pai de Ren e mais alguns homens trajados de maneira respeitável, provavelmente outros donos de empresas como todos ali, obviamente, se aproximou da mesa dos outros seguranças que pararam de falar quando o viram se aproximar, ouvindo as ultimas frases " eu não queria estar na pele dele ..."

Não gostava daquelas confraternizações, mas, sem ter para onde fugir, ele infelizmente deveria estar ali, se sentando e se mantendo na dele como sempre, ignorando as tentativas dos outros de se aproximarem dele para adiciona-lo na roda de conversa dos seguranças, ele não tinha interesse naquele tipo de pessoas.

Estava distraido observando o local, quando se deparou ao ouvir a conversa da outra mesa, de maneira baixa, se assustando quando Ren se levanta daquela forma abrupta, vermelha e incomodada, jogando o vinho sobre o outro homem a sua frente


Aquilo havia o surpreendido, o cara estava descaradamente flertando com o outro que tinha metade da sua idade e parecia super incomodado, obvio que detalhes mínimos não seriam passados despercebido pelos olhos de alguém que havia sido treinado para isso, como por exemplo, uma das pernas da calça de Ren estarem um pouco levantadas, o que não estava antes de se sentar naquela mesa, ele achou que o outro falaria o que aconteceu, mas não, aquela sua face de vergonha apenas aumentou vermelho de algo que parecia raiva e medo, ele estava fazendo exatamente o contrario do que deveria fazer.

Logo, Hide apenas se levanta quando ouve seu nome sendo chamado, incrédulo com aquela cena mas decididamente acertivo de que sair dali era o melhor para a segurança de Ren, o acompanhando para o carro sem falar nada já que o outro também não falava, para ser honesto, ele não sabia o que fazer, mas, ver aquilo com seus próprios olhos revirava seu estomago e ele não conseguia imaginar como o outro se sentia.

Dirigiu em silencio por todo o caminho pensando no que poderia fazer, isso não estava certo mas ele mal conseguia trocar duas palavras com ela criatura rebelde e arisca, porem, sabia que não deveria ficar em silencio, não naquela situação, mas, não tinha palavras em seus labios para que pudesse falar.

Enfim, quando chegaram a casa dele, antes de deixar o garoto sair, apenas trancou todos as portas com o botão ao seu lado, se virando para trás para encara-lo, procurando pelas palavras certas com certa dificuldade ao ve-lo ainda vermelho no banco de trás, ele não estava preparado para aquilo hoje, " aquele era para ser seu trabalho facil".

- Você fez o certo, sinto muito que não tenha conseguido falar.

Obvio que estava se referindo ao que viu, com dificuldade e falando com certo constrangimento de se intrometer em algo que não lhe fazia respeito, logo, apenas se virou para destrancar as portas, o deixando sair para que pudesse entrar em casa.

Seu rosto queimava em constrangimento e suas pernas tremiam de medo. Por mais que sempre tentasse parecer forte e despreocupado, como quem não se importa com nada, no fundo Ren era apenas um garotinho assustado e machucado que não pedia nada mais do que um pouco de respeito.

Seguiu Hide para fora do restaurante, com a cabeça baixa e mais quieto do que nunca, com os olhos colados na janela enquanto via a paisagem da cidade ir passando até que reconhecesse aquela casa a qual odiava, no entanto, quando tenta abrir a porta elas se trancam. Confuso e ainda constrangido ele olha para o homem no banco da frente, o encarando inicialmente com uma expressão vazia, que se transforma em raiva e dor.

— Falar não adiantaria de nada.

Aquela era provavelmente a primeira vez que o encarou sem a típica expressão de deboche, mas agora, com toda aquela dor que sentia em si carregando suas palavras. Quando as portas são abertas, se apressa para sair, mas ainda próximo ao carro, para de andar ainda de costas.

— Não se intrometa, você não sabe nada sobre mim e nem vai saber.

Com isso volta a andar em direção a grande porta da entrada. Ninguém o conhecia e ninguém se importava, e não seria agora que as coisas mudariam.

Já na sala, pôde escutar a conversa entre as empregadas morrer com sua aparição e então o comentário baixinho quando já estava na escada.


Apressado ele se fecha em seu quarto, com os olhos agora transbordando em lágrimas e se por um momento pensou em se jogar em sua cama, desistiu no momento seguinte quando se lembrou de tudo o que aconteceu ali. Nem mesmo em sua própria cama teria paz.

Despedaçado ele apenas se senta no chão, abraçando o próprio corpo e se apoiando no pé da cama, sentindo nojo de si mesmo, do próprio corpo, daqueles homens, de seu pai e de todo o restante que já encostou em sua pele. Sem perceber, já estava com as unhas cravadas no tecido daquela camisa tentando se arranhar.

Ninguém o via como uma pessoa, como um ser com sentimentos, apenas um brinquedo sexual para usar e jogar fora, descontando as frustrações e o matando cada dia mais, e por mais que ele fingisse não se importar quando seu próprio pai o comparava com uma cadela, em momentos como aquele, sozinho em seu quarto, isso o matava.

Cansado de chorar, o loiro apenas se deita no chão, soluçando baixinho e sentindo o gosto de sangue nos lábios maltratados.

Ele sabia que aquela resposta mal educada viria de qualquer forma, então, nem se importou de imediato, afinal, ele se sentia incomodado mais pelo rosto arrogante ter se transformado em desespero, como se aquele garoto mimado tivesse o deixado ter um vislumbre do que ocorria ali dentro, por trás daquela casca arrogante, do que se ofender com aquelas palavras vazias cheias de rancor.

Logo, quando o outro já tinha entrado, ele apenas sai do carro também, entrando pela casa e ouvindo os outros empregados conversarem entre si, de maneira baixa enquanto o via correr para as escadas acima, como se quisesse não deixar que os outros o vissem, obviamente ele estava por um fio.



Todos ali pareciam gostar de apontar os dedos para Ren, afinal, sua reputação com todos os empregados era péssima, mas, dessa vez ele não concordava com eles, afinal, eles não sabiam o que havia acontecido, porque estavam se precipitando tanto em apontar os dedos para o garoto ?


Ele realmente não tinha comido nada, mas, não era algo que o incomodava muito, afinal, já tinha passado por situações piores e chegaria logo seu intervalo, mas, algo o perturbava

- O garoto também não comeu, não deveriam levar algo para ele ?

A funcionaria apenas ri, como quem tivesse gostado de uma piada, logo, parando com um olhar desconfiada, como se não acreditasse que ele estava falando serio


Falando aquilo, Hide apenas concorda, indicando que havia entendido o conselho e vendo a mulher se afastar, massageando um pouco as têmporas, pensando no que deveria ser feito, aquele garoto realmente tinha aquele poder, mas, ele não teve culpa dessa vez e só ele sabia daquilo ali, seu senso de moral não o queria deixar sozinho.

Logo, quando desistiu de lutar contra seus próprios princípios, se juntou a cozinha sendo recebido pelo funcionário dali que o indicava onde pegar e aquecer sua comida no micro-ondas e assim o fez, se servindo e pegando de tudo um pouco, afinal, não sabia porque estava fazendo aquilo, assim como também não sabia o que o garoto preferia comer...

Com tudo em mãos, ignorou onde o homem indicava que deveria comer, saindo dali sem dar ouvidos e seguindo para o quarto que sabia que era de Ren apenas porque uma das funcionarias a qual havia perguntado o indicou, surpresa que alguém teria coragem de levar algo para aquele animal selvagem comer.

Enfim, subiu as escadas e parou a frente daquela porta, respirando por um momento e refletindo se aquela era a melhor ideia, infelizmente já estava aqui, então, se não fosse, arcaria com as consequencias.

Bateu na porta algumas vezes, mas, sem sinal de vida, então, pensou em desistir, talvez ele estivesse no banheiro ? não, ele ouvia alguns barulhos baixos do outros lado, então, percebeu que a porta estava destrancada, entrando ali devagar.

- Estou entrando ...

Pretendia anunciar que tinha trazido o almoço dele também, mesmo que fosse obvio, mas, apenas viu aquela pessoa no chão, soluçando baixinho e encolhido, o que o fez apertar um pouco seu peito, realmente aquilo tinha mexido bastante com ele e não se surpreendia.

Se abaixou ali, com o copo de suco e prato em mãos enquanto observava o garoto apenas o observar com o mesmo olhar arrisco de sempre, mas, bem triste, com os olhos inchados e vermelhos, no fundo, chegava a despertar um senso de empatia em Hide, afinal, ele ainda era uma pessoa, uma pessoa que se sentiu um objeto e isso era errado.

- Eu sei que não almoçou nada, então eu resolvi trazer algo para comer, por ter dor no estomago de novo se só continuar com aquele lanche gorduroso

Logo, aproximou aquelas coisas dele, se abaixando também, o observando por um tempo, ele estava terrível e com os lábios sangrando, provavelmente algo que ele mesmo havia feito, com as roupas esticadas e desajeitadas, ele queria ajuda-lo de alguma forma, mas sabia que o garoto mal conseguia olhar na sua cara.

- Não se preocupe, eu já vou sair, mas tente comer ao menos um pouco, eu não sei do que gosta, então, trouxe um pouco de cada coisa que achei.

Mesmo que escutasse batidas na porta, não estava em condições alguma de levantar para abrir, logo, apenas continuou imóvel até que Hide entrasse em seu campo de visão, o que era uma surpresa a Ren. Nenhum empregado jamais ousou entrar em seu quarto, muito menos para lhe trazer comida, eles sempre mantinham distância como se o garoto fosse um animal selvagem enjaulado, pronto para atacar quem se aproximasse.

Apenas acompanhou seu movimento com os olhos, escutando o que dizia, mas não demonstrando nada que não fosse aquela mesma expressão de sofrimento de antes, e mesmo que não quisesse ser visto dessa forma, não estava com forças para fingir nada. No fim, não o responde e nem para agradecer e nem para expulsá-lo, se mantendo quieto e imóvel até que deixasse seu quarto. Ele não o conhecia e não se preocupava de verdade, não tinha porque se sentir comovido com aquilo.

Não sabia o quanto tempo se passou, mas não encostou naquela comida, não conseguiria comer nada, seu estômago estava embrulhado demais e seu apetite sumiu. Até tentou beber um pouco do suco quando sua garganta começou a secar, mas não conseguiu muito mais do que aquilo.

Ainda naquele chão não percebeu as horas se passando até que percebesse que havia anoitecido, como temia. Já como esperava, a porta de seu quarto não demorou a se abrir novamente, mas dessa vez não era Hide, mas sim, o próprio demônio em pessoa.


Sabia o que aconteceria e não teria muito para onde correr então, apenas me ergo o suficiente para me sentar no chão de frente a ele.


— Ele estar me assediando não significa nada a você de qualquer forma.


Nada do que dissesse adiantaria de alguma coisa, logo, o loiro apenas espera o que estava por vir, quem sabe ele tivesse um pouco do piedade e o desacordasse? Assim pelo menos descansaria sem ficar chorando naquele chão, com dor.

— Anda logo, me espanca.


Ren apenas viu o homem a sua frente desfivelar o cinto de sua calça social, embolando uma parte na mão direita e levantando o braço. Claro que ele não bateria usando a parte do couro, mas sim, a fivela de metal pesado que não demorou a colidir com o braço que usou para tentar se proteger, já sentindo a dor se alastrar pela região.

A cada golpe seus olhos se enchiam mais de lágrimas e ele podia sentir toda a raiva daquele homem que não tinha piedade alguma, usando toda a força que tinha, e em um momento de descuido onde parou de proteger o rosto, o metal acertou em cheio seu supercílio e então os golpes pararam.

Meio atordoado com a pancada perto da cabeça, o loiro leva uma mão até a região atingida, sentindo um líquido espesso em seus dedos e então sentindo escorrer por seu rosto, vendo o sangue pingar no chão.


A frieza na forma com que ele dizia aquilo e agarrava seu rosto com brutalidade para ver o ferimento o assustava ainda mais e então, o homem o solta e Ren é obrigado a fechar o olho direito agora que o sangue escorria até ele.


Tendo seu braço agarrado, ele é obrigado a se colocar de pé nas pernas bambas que mal suportava seu próprio peso, tentando não cair enquanto era arrastado pelo corredor até as escadas, se esforçando mais ainda para não errar um degrau e desabar.

Pôde escutar seu pai chamar pelo nome de Hide, mas não conseguia enxergar muita coisa com um olho fechado e o outro embaçado pelas lágrimas agora causadas pela dor física.


Se não estivesse tão atordoado, Ren provavelmente iria rir daquela desculpa ridícula. Claro que ele iria distorcer a realidade e colocá-lo como culpado, mas os empregados nunca contestavam nada e sempre acreditavam, não seria diferente dessa vez.


Soltando seu braço com certa brutalidade, o loiro desce o último degrau tropeçando nos próprios pés, cambaleando, sem saber aonde se segurar.


Com isso o homem apenas da a volta e sobe as escadas de novo.

Queria tentar ajuda-lo de alguma forma já que ele deveria estar se sentindo um lixo, mas, como não recebeu nenhuma resposta, apenas se levantou e seguiu para fora, fechando a porta em silencio para lhe dar um pouco de privacidade em seu momento, seguindo seu dia de maneira tranquila, comendo algo e apenas prosseguindo com aquilo ali, conhecendo os outros funcionários do local e até mesmo mais daquela fama de "vadia barata" como todos falavam, como se aquele fosse o segundo nome de Ren.

Estava calmo, aguardando o turno da noite nos jardins quando ouviu o Sr. Ikeda chama-lo, correndo para saber se algo havia acontecido com Ren, se assustando ao se deparar com aquela situação.


Aquilo não estava certo, Hide conhecia mais do que qualquer um ferimentos por conta de seu passado e aquilo definitivamente não era ferimentos de alguém que havia se auto machucado, diferente dos lábios um pouco inchados e vermelhos de sangue, aquilo não era normal.

Obvio que seus olhos treinados procuraram as mãos do homem mais velho ali, mas não estavam esfoladas, porém, algo faltava naquele visual "elegante" um cinto, que ele tinha certeza que usava antes, Hide poderia ter tido uma péssima educação, mas a vida o tinha ensinado muito bem tudo o que precisava para viver. Aquilo não era automutilação, aquilo era espancamento.

Ele não tinha tempo e nem poder para enfrentar aquele homem já que obviamente ele perderia a discussão e seria demitido, então, quando se vira, apenas se aproxima do garoto de maneira rápida, o impedindo de cair por estar com as pernas tremendo, próximo a ele.

- Sei que odeia isso, mas vai ter que aguentar por um tempo

O avisa antes de se abaixar um pouco, o buscando no colo como uma princesa e logo sentindo o peso dele soltar sobre suas mãos, ele estava exausto mas ainda se tremia de dor enquanto chorava, era uma visão terrível, já que até seus cabelos claros tinham sangue, mas, ele precisava aguentar mais um pouco, ele tinha que aguentar.

Apressado, Hide apenas andou rápido para o carro ignorando os olhares de todos ali e colocando o garoto no banco da frente, afivelando o cinto para logo dirigir para o hospital, de maneira rápida, hora ou outra olhando para o lado para verificar se ele ainda esta ali com ele, já que o corpo, antes com menos marcas, agora começava a colori-las mais, deixando bem clara as marcas de vergões pelo corpo.

Quando chegam lá, novamente o leva no colo como uma criança leve, o que realmente era, logo, sendo atendido com certa urgência e levado pelos médicos quando veem o quanto de sangue que não parava de jorrar dali, ele precisava de pontos e de soro, além de uma cirurgia rápida pelo que os médicos explicaram para Hide que apenas se manteve em silencio, com o terno cheio de sangue, preocupado com ele mesmo que não o conhecesse nada, ele ainda era uma pessoa.

Haviam se passado aproximadamente duas horas e ele já estava sendo encaminhando para o quarto onde Hide poderia vê-lo, provavelmente um pouco grogue pelos medicamentos e aconselhado pelos médicos a permanecer pela noite ali, Hide poderia ter ido para casa, já que agora estava tudo bem e ele estava sobre a segurança do hospital, mas, algo o fazia querer ficar ali, afinal, ele duvidaria que o garoto teria alguma companhia durante as horas que ficaria aqui, além de que eles tinham algo para tentar conversar, Hide sabia que aqueles ferimentos não tinham sido sua culpa.

Logo, entra no quarto quando lhe foi permitido, o vendo com um dos olhos com um curativo, as marcas pelo corpo mais forte e a camisola do hospital, além de um lençol sobre as pernas, ele parecia tranquilo agora, provavelmente pela quantidade de remédios que lhe foi manuseada, se aproximando do sofá para sentar ali, o observando encarar a televisão desligada enquanto tirava aquele blazer imundo de sangue seco, já que poderia ser desagradável de ver.

- Quer que eu ligue pra você ?

Ele não conseguia se lembrar de muita coisa, estava com dor demais e fraco demais por não ter comido praticamente nada e ainda ter levado uma surra, só conseguia se lembrar de estar no colo de Hide, depois no carro e então dos médicos o levando para algum lugar até que acordasse naquele quarto branco.

Poderia ser estranho, mas perceber que passaria a noite ali de certa forma era tranquilizador, afinal, poderia enfim deitar em uma cama que não sentia ser suja e com a certeza de que ninguém invadiria o quarto para abusar de seu corpo.

Encarando a televisão com o olhar meio vazio, percebe que a porta se abre  e então vira a cabeça de leve, estranhando ao perceber que seu segurança era quem estava ali, coisa incomum, afinal, não havia necessidade de alguém o protegendo naquele lugar, e Ren sabia que isso não era ordem de seu pai, ele estava fazendo aquilo por vontade própria.

Apenas nega com a cabeça quando o pergunta se queria que ligasse a TV. Não queria muito barulho, só queria um pouco de paz pelo menos algumas horas de sua vida.

Seu corpo não doía, mas o loiro se sentia meio entorpecido por conta dos remédios, além de cansado, então recosta sob o encosto, olhando para seus próprios braços, notando alguns vergões e alguns curativos em ferimentos que foram um pouco piores, tudo isso misturado com as outras muitas cicatrizes esbranquiçadas e velhas que cobriam sua pele.

— Por que ainda está aqui?

Pergunta depois de algum tempo em silêncio, levantando a cabeça para olhar o homem ali naquele sofá. Seu tom não era rude como o de costume, sua voz estava fraca e baixa, mas sua curiosidade falava mais alto. Todas as vezes em que acabou no hospital, ficou sozinho por horas, ninguém nunca o visitava, então, o que era diferente agora?

Quando recebe o sinal negativo, logo entende que o outro queria apenas ficar quieto, o que era total direito já que falar seria bem difícil com o tanto de machucados que seu corpo apresentava, tais machucados que agora podia notar já que aquela camisola de hospital era de manga curta.

Logo, se senta no sofá esperando o tempo passar, encarando o nada e um pouco cansado, apenas tinha tomado um café nesse meio tempo para tentar despertar, o que não o tinha ajudado muito, enfim, enquanto estava perdido nos pensamentos de não dormir, ouve aquela pergunta feita de maneira fraca, olhando para aquele rosto que agora não apresentava deboche ou ironia, só o rosto de uma pessoa normal.

- Eu já acordei algumas vezes sozinho no hospital e sei como pode ser solitário, então, decidi ficar.

Sorria minimamente já que sabia que teriam uma conversa daqui a pouco, afinal, a segurança daquele garoto dependia de ele e vendo seu estado, ele parecia estar falhando naquilo.

- Sei que não te interessa, mas, eu era um boxeador antes, eu já apanhei muito de outras pessoas - ainda o encarando nos olhos, apenas desvia a sua atenção por um momento para a sobrancelha fraturada do outro - E eu sei identificar quando as lesões são causadas pelos outros, assim como eu também sei quando são causadas por si mesmo.

Ele tinha um passado conturbado para ser honesto, quase morreu inúmeras vezes e isso não era algo de se esconder, mas, no momento, ele não estava falando dele ali, ele estava falando do outro

- Só estou falando isso pra que saiba que eu vou acreditar na sua versão da historia, se quiser me contar

Era estranho escutar que alguém se importava com o fato de ele acordar sozinho naquele hospital, pensando em como ele se sentiria solitário, mas ainda assim aquilo não o afetava muito, não conseguia acreditar que era uma preocupação genuína.

Pensando bem fazia sentido ele ser um ex lutador, isso explicava as cicatrizes, o que não importava e não incomodava em nada a Ren, mas quando diz a última parte, sobre acreditar em suas palavras, franze um pouco o cenho agora passando de uma expressão vazia para algo mais sério e incomodado.

— E de que adianta a versão da história de uma vadia suja e barata?

Usa as palavras que eram comumente direcionadas a si em qualquer lugar.

— É melhor acreditar que eu mesmo fiz tudo isso, ou que foi um acidente e eu caí.

Não queria falar a verdade, não queria contar a um desconhecido que seu pai o espancava, abusava e estuprava, porque não sabia até que ponto aguentaria falar sobre aquilo e até que ponto poderia confiar no outro. Tudo o que menos precisava era se abrir com alguém e acabar sendo julgado de novo.

— Não precisa ficar, não é seu trabalho, e eu já estou acostumado a ficar sozinho em um hospital, ao menos aqui eu tenho paz.

Exausto, se deita na maca, puxando um pouco mais o lençol sob seu corpo e fechando os olhos.

— Mas obrigado.

Ele era um garoto problemático, isso não tinha duvida, mas, também não acreditava naquelas palavras " vadia suja e barata " que havia se referido para ele mesmo, logo, observando seu tom hostil voltar, mas, se surpreendendo no final, com o agradecimento vazio.

Logo, Hide se levanta ali, meio incomodado, se aproximando da porta para se virar antes de sair, o olhando de maneira seria

- Se te diz respeito, eu não te considero uma "vadia suja e barata"

Enfim, sai dali, fechando a porta atrás de si apenas para andar um pouco pelo hospital, pensando até mesmo em ir embora já que aquele cara não precisava ficar ali, afinal, pelas próprias palavras dele, " não era seu trabalho", mas, sabia que mal conseguiria descansar em imaginar que poderia ter feito diferente, logo, indo só em direção a maquina vendas dali, escolhendo com algumas moedas uma lata de café gelado, pensando em levar uma também para Ren, mas desistindo ao perceber que não tinha mais nenhuma lata de café ali, lhe restando a outra melhor opção da maquina, achocolatado

Se sentiu indo servir uma criança mesmo, logo, entrando novamente pela porta e o vendo ali, rindo de maneira debochada.

- Achou que ia se livrar de maneira facil de mim ?

Riu um pouco, se aproximando e deixando a caixinha em cima de seu peito, ele não estava com os braços quebrados, então, poderia colocar o canudo por conta propria.

Logo, se sentou ali novamente, abrindo a lata de café e bebendo um pouco, encostando a cabeça no apoio do sofá e fechando os olhos por um minuto, estava exausto e aquele com certeza não seria o seu trabalho facil.

“Você não me conhece.” Foi o que passou em sua cabeça com aquela afirmação por parte do outro. As vezes Ren chegava a acreditar naquelas naquelas, afinal, não era mentira e nem segredo para ninguém que transava com vários caras diferentes, muitos inclusive desconhecidos.

Suspirando, continua ali quieto tentando descansar até que se assusta com a porta se abrindo de novo. Ele não tinha ido embora? Sem entender, se senta de novo agora vendo a caixinha de achocolatado em mãos. Ele achava que era uma criança.

— Não seria uma surpresa.

Da de ombros observando um pouco aquilo em sua mão pensando em abrir, mas se assustando de novo com o som de seu celular tocando na mesa de cabeceira ao seu lado. Arin. Suspirou como se pensasse no que fazer, pensando em ignoras, mas seria pior então optou por atender.

— Oi loirinho. — fingiu um pouco de animação mesmo que fosse difícil.


— Entediante como sempre, apenas negócios.


— Eu estou bem, Arin, só cansado.


— Tenho, não se preocupe.


— Amanhã? Claro.


— Boa noite.

Com isso a chamada foi encerrada e Ren pôde respirar fundo. Não sentia culpa naquilo, mas não era agradável ficar mentindo ao outro toda hora. Ele então abre o canudinho daquele achocolatado, espetando no local indicado e dando um gole.