Wavering Paths

Relembrando a primeira mensagem :

* Suspirei levemente e assenti ao meu motorista, saindo do carro preto e espreguiçando-me, pondo a mochila às costas e dirigindo-me à minha sala, cumprimentando algumas pessoas pelo caminho com high-5 e coisas do género. Chegando à sala, entrei sem cerimónias e pousei a minha mochila sobre a mesa partilhada, logo indo buscar um par de luvas de borracha, óculos de proteção e uma bata de laboratório, voltando ao meu lugar e vendo que o meu colega de carteira tinha também chegado. Sorri, mais entusiasmado, e passei um braço pelos seus ombros. *

- Boooom dia, Nacchi! Como estás hoje? - * Perguntei, observando o seu rosto, com um sorriso automático no rosto, símbolo de boa disposição matinal. *

Minha feição mudou completamente no momento em que ele começou a falar.
Franzi o cenho, o encarando sem entender nada do que estava acontecendo.
Me levantando rapidamente corri até a porta, onde li a placa com o nome dele escrito e bem evidente.

Aquele definitivamente era o nome dele, mas não era seu quarto?
Do que diabos ele estava falando?
Ele por algum motivo havia mentido pra mim?
E por que?...

Fiquei parado ali, de pé, o olhando sem entender droga nenhuma.
Não conseguia processar na minha cabeça o que ele havia acabado de dizer, mas, entendi que deveria ao menos tirar o menino dali...

- Eu vou te levar pro meu quarto... - disse, o tom sério demais para brincadeiras.

Me aproximei, pegando-o nas costas como conseguia, logo saindo pelos corredores novamente e indo em direção ao meu quarto.

Como possívelmente eu iria levá-lo pra casa dele se nem ao menos sabia o de era? Ou quem eram seus pais?
Eu não sabia nada além do básico que ele me dizia, e estava crente de que muito do que disse foram mentiras bem contadas...

* Funguei, escondendo o rosto nas suas costas, indefeso e quase totalmente submisso; um livro aberto. *

- O meu nome está ali, mas tem outro por baixo... E esse outro nome é o do garoto que ocupa o quarto, aquele é um quarto duplo... Alguns, como o teu, acabaram por sair mais pequenos e só albergam uma pessoa, não é o caso do quarto onde estávamos... E-eu... Eu vou ligar para casa, alguém me vem buscar... E-eu... A-aaaah... *Hic* Desculpa...! - * A última palavra saiu num fiozinho de voz, aguda, com as lágrimas de emoção assoberbante a escorrer pelo meu rosto, molhando a camisa dele. O meu corpo tremia e eu recusava-me a abrir os olhos, rendido a uma hipótese que considerava certa. *

- ("Ele odeia-me...").

Ok...
Pelos dois precisava manter a calma...
Ele estava passando mal, com febre e tenho certeza de que ficar nervoso nessa situação não ajudaria nem um pouco então, pelos dois, iria manter a calma, até poder entender tudo melhor.

Chegando em meu quarto, destranquei a porta, ajeitando ele em minhas costas para que não caísse, por fim nos trancando lá dentro.
Paz e sossego num quarto que sabia ser seguro.
Ao menos estávamos a sós sem o risco de alguém entrar de repente.

- Eu não preciso saber de nada. Chega de dar explicações pra mim. Você não é obrigado a esse tipo de coisa. - resmunguei, um pouco sério demais, mas queria que ele entendesse que tudo isso não era problema pra mim. - Você vai explicar tudo no seu tempo, e se não quiser também não vou te obrigar a nada. Então apenas relaxa, deita, toma os remédios e cala a boca um pouco ta bom? - dizia tudo meio nervoso, mas no fundo apenas fiquei preocupado com o ele, afinal, de repente ficar tão mal assim não era normal.

O deitei em minha cama, tirando sua camisa molhada de suor.
As cobertas já estavam encima dele, bem quentinhas, então rapidamente fui pegar uma toalha molhada pra colocar em sua cabeça, junto com comprimidos pra dor e febre.

- Aqui. Tenta beber isso, vai se sentir melhor.

* Tentei refutar, mas foi em vão. Calei-me pouco depois de ele começar a falar, apenas ouvindo, em silêncio, sinal de respeito. *

- E-está bem... - * Tomei os remédios e engoli com dificuldade, suspirando um pouco e afundando o rosto na almofada, inspirando um pouco do aroma agradável ali, provavelmente do shampô dele, tendo ficado ali após ir dormir sem secar os cabelos direito. *

- Espera um segundo... Vou ligar para casa... - * Estiquei o braço para o chão e alcancei o meu telemóvel, na bolsa exterior da mochila. Acedi aos contactos e carreguei num deles, logo colocando o aparelho ao ouvido e suspirando, esperando ser atendido. *

- E-estou...? Sou eu... Sim... Sim, eu sei que é... Não, estou a passar mal... Não devia ter sequer vindo, hoje... Sim, eu... Haaah... Sim... Ã-hã.. Uhn... Está bem, não se preocupem... Podem vir-me buscar...? Estou no quarto do Ta-... do Nacchi... - * Travei, preferindo chamar-lhe pelo apelido e não revelar que, além de usar o seu nome no nosso char privado o mencionava também pelo primeiro nome com a minha família. *

- Sim... Sim... Se alguém mais atender não se preocupem, é ele... Sim... Está bem, obrigado... Até já... - * Fechei os olhos e desliguei a chamada, afundando o rosto no travesseiro e encolhendo-me debaixo das cobertas com os joelhos perto do peito, tentando conter aquele malestar e hesitando em falar, com medo de o zangar. *

Deixei-o falar no telefone ao menos, tentando acalmar o garoto de algum jeito.
Se ele achava que era melhor voltar pra casa, quem era eu pra discutir com ele? Talvez ficar com sua família seria melhora gora, de qualquer maneira.

Enquanto ele falava no telefone, fiquei pensativo.
Muitas coisas pra se pensar, as besteiras que andava tentando fazer comigo mesmo nesses dias.
Sei que se eu me sentia mal assim, ele com certeza também se sentia as vezes.
Eu esquecia que não era apenas eu que tinha problemas. Mas ultimamente esses problemas vinham me deixando meio louco, pensando em fazer coisas erradas, me machucar as vezes...
Só... Nah, agora não era hora de pensar nessas besteiras. Precisava me concentrar nele agora, pois precisava da minha ajuda.

- Quem vai vir te buscar? - perguntei, agora um pouco mais calmo, principalmente no tom de minha voz. - Se quiser eu posso te ajudar... Desculpa por ter ficado nervoso, eu não sei o que fazer e nem to entendendo muito bem o que aconteceu... Ultimamente ficou difícil pensar direito... - suspirei, passando as mãos por meus cabelos.

- ...Uns empregados do meu pai, são amigos dele... Trabalham na mesma... Bem... "Empresa" talvez não seja o termo correto, mas não sei como te explicar agora... Eles são amigos, é o que interessa. Eles disseram que estavam ocupados e que ainda iam demorar, então teria de esperar um bom bocado. Haaa... - *Suspirei, tapando a cabeça com os cobertores. Novamente fui buscar o meu telemóvel, mas não saí dali debaixo. Apenas deu para ver uma luz acender no alto enorme que era eu, debaixo das cobertas dele.*

[FROM: I'M SORRY!!]
[TO: WILL YOU FORGIVE ME?]

                  ^
                   |

Ele realmente nunca havia comentado nada sobre seus pais ou o que faziam.
Já desconfiava de algumas coisas, mas se fosse mesmo o que eu pensava, talvez fosse melhor deixar tudo quieto.
Ele e eu já tínhamos problemas demais pra lidar.

Me sentei na beirada da cama, dando alguns tapinhas por cima das cobertas onde supostamente estaria suas costas.
Era o mínimo que podia fazer. Tentar reconfortá-lo de qualquer coisa ruim que estivesse passando.

- Não precisa se preocupar. Quando chegarem eu explico o que aconteceu. Se quiser dormir um pouco, seria melhor pra você. - minha voz saía mais suave, calma.

Não adiantava se exaltar.
Queria entender o que estava acontecendo, mas, tudo ao seu tempo.

* Encolhi-me ligeiramente, mas logo relaxei um pouco, assentinso levemente. *

[FROM: Mikincredibly Dizzy]
[TO: My Friend From Haikyuu!!]

- Chega mais perto da minha cabeça, só para eu saber que és tu, aí...

- Tenho trauma de dormir fora de casa... Traz-me memórias más...

- O teu shampô cheira bem...

- Pergunta: gostas das alcunhas que eu estou sempre a colocar no nosso chat ou nah?

(Eu não entendo muito bem esses *[]* que vc coloca XD)

Meus dedos subiram um pouco, um sorriso mais tranquilo nos lábios ao tocar seus cabelos macios.

Parecia uma criança, procurando proteção do escuro.
Se ele sou esse o quanto eu tinha medo do escuro também, tenho certeza de que não ficaria nem um pouco feliz...

Minha mão pousou em sua cabeça, um carinho tranquilo enquanto respirava bem devagar.
Ele precisava de um pouco mais de cuidados, então, acabei me deitando de frente pra ele, apenas para continuar a enroscar meus dedos em seus fios.

- Pode dormir. Eu to aqui, não vou sair de perto, prometo. E não precisa se preocupar em me explicar nada. Não precisa. Eu só quero saber se está bem, e nada mais. Sou seu amigo. - disse tranquilo, mas com certeza no tom de minha voz.

Se nem mesmo eu contava tudo a ele, tenho certeza de que ele também não era obrigado a me contar.
Eu escondia mais coisas do que ele imaginava. Como me sentia. O que sentia.
Quantas vezes tentei me machucar pra me livrar disso. O quão solitário era mesmo... Quando estava rodeado de pessoas...
Tinha medo de contar pra ele, e ele me achar louco...
Meu único amigo a quem um dia eu contei tudo, acabou indo embora... E tinha medo de que ele também fosse...

(Oh, eu ponho isso para mostrar que são as mensagens do chat deles!! Por isso é que tem DE/PARA com alcunhas!)

*Fiquei tenso ao sentir a mão nos meus cabelos mas em questão segundosmdeixeimo meu corpo derreter sobre o toque dele, que nem manteiga cortada por uma faca quente. Suspirei levemente pelo nariz e fechei os olhos, aconchegando-me uns centímetros mais perto dele rendido e emnpax de alma. O meu tememóvel, intocado desde instantes, apagou-se lentamente. *

- ...Obrigado... Naicchi... - * As minhas palavras saíram se, eu pensar, e a alcunha que lhe tinha dado saiu misturada com o seu primeiro nome, num murmúrio cansaso e débil mas de afeição, carinhoso. *

- ... - * Por aquela altura já estava incapaz de raciocinar direito ou sequer falar, os meus olhos quase fechados enquanto adormecia lenta e suavemente, embriagado pelo seu toque, pela sua voz, pelo seu cheiro, pelo seu calor, pela sua simples e preciosa presença...*

Talvez eu estivesse precisando mais dele do que ele de mim...
Talvez eu precisasse me segurar a ele para não sucumbir...
Pois ele foi uma das melhores coisas que me aconteceu durante anos.
Um amigo de verdade. Alguém que eu queria cuidar e alguém que queria cuidar de mim...
Talvez, mas apenas talvez, eu pudesse confiar a ele meus segredos mais obscuros, a que nem eu mesmo ousava pensar...

Quando ele finalmente fechou os olhos, quando percebi que ele dormira, me aproximei mais, abraçando-me a seu corpo quente, que parecia melhor agora.
Passei os braços por ele, encostando a testa na sua, fechando meus próprios olhos.

Podia arriscar quem sabe, dormir, sem ter pesadelos ou rolar na cama a noite toda.
Quem sabe se eu estivesse perto de alguém isso mudaria?
A alfuns dias eu havia começado a negligenciar meu próprio corpo. Estava ficando doente, não dormia.
Achei que se ele estivesse por perto seria mais fácil de lidar com tudo, mas isso ainda era muito incerto...

* Aquele pequeno movimento foi o suficiente para os meus sentidos, pelo menos, acordarem. Levantei os braços e coloquei-os lentamente em volta dele, aconchegando-o contra mim igualmente aceitante. Voltei a adormecer, encaixando gentilmente o meu corpo no seu como peças de um puzzle, com as cobertas da cama entre nós. Assim voltei ao meu sono, estável durante as várias horas seguintes, mantendo uma mão pousada na sua nuca como o único contacto pele-a-pele não contando as fazes a tocar-se. A única coisa que perturbou aquela harmonia foi o meu telemóvel a tocar a música calminha que tocava para todos menos ele, que anunciava uma chamada. *

Foi a primeira vez em dois anos, que havia conseguido dormir tranquilo.
Já faziam dois longos anos, em que havia clmeçado a entrar num redemoinho de problemas que vinham me deixando maluco.
E em dois anos, não vinha dormindo direito.
Mas dessa vez nem ao menos havia percebido quando caí no sono.
Quando fui perceber já estava dormindo feito um bebê entre seus braços, aconchegado o suficiente para dormir profundamente por horas e mais horas, sem nem me mover na cama.

Foi a melhor coisa que podia ter acontecido comigo em algum tempo.
Ter alguém pra me confortar mesmo que não fosse a intensão...
Apenas ter alguém ali comigo era o suficiente...

Quando seu celular começou a tocar, senti um movimento de leve na cama, mas acabei por não me incomodar muito.
O sono estava tão gostoso e a música tão baixinha, que acabei não me importando, apenas o abraçando um pouquinho mais forte, resmungando qualquer coisa sem sentido algum.

- Mrn... - * Mexi-me com cuidado para não o incomodar, produrando o aparelho. Quando o encontrei, atendi a chamada, grogue. *

- Sim... Sim... Hrm... Não... Sim... Sim... Uhuh... Woooah... 'tá bom, 'té amanhã... Tchau... - * Desliguei a chamada e coloquei o aparelho sobre a mesinha de cabeceira, voltando a enroscar-me nele, sentindo uma rara sensação de conforto pelo meu corpo, isolando a minha consciêncio dos meus arredores e forçando-me a concentrar-me nele. Voltei a abraçar-me confortavelmente a ele, os seus cabelos picando sem magoar a minha pele. Assim, adormeci novamente, calmamente, segurando-o a mim sem nunca largar. *

O resto da noite foi tranquila.
Nada fora do normal. Eu até mesmo havia conseguido dormir sem ter pesadelos, e tinha certeza de que acordaria bem melhor.
Era de manhã cedo, o sol batendo na janela, os poucos feixes de luz entrando pelas frestas e iluminando o quarto escuro.
Tudo era silêncio a não ser pelos passarinhos do lado de fora, cantando bem na minha janela.

Continuei no entanto a dormir tranquilo por um longo tempo.
Estava tão aconchegante, eu precisava dormir melhor de qualquer mabeira por que não vinha pregando os olhos a anos...
Como conseguia viver assim nem eu sabia.
Mas havia me acostumado.
Acostumado a perder meus antigos amigos. A ser recluso de minha família. A esconder meus demônios e sorrir o tempo todo, a fingir que sempre estava tudo bem, apesar de não estar...
Quando me lembrava que meus amogos todos estavam ainda juntos, sem nem sequer lembrar de mim, simplesmente não conseguia engolir.
Me dava nojo de eu mesmo...

* Aconcheguei-o contra mim, começando a acordar e a reativar os sentidos. A primeira coisa que senti não foi o sol, não foi o conforto daquele quarto sabendo que não estavava só, não foi a respiração dele a bater-me no pescoço... Foi uma súbita vontade de vomitar... Com cuidado mas urgência separei-me dele, quase caindo da cama e já nem conseguindo preocupar-me com o facto de que o tinha acordado com aquele alarido. Apenas corri, tropeçando, até à casa de banho, abrindo a porta com esta a fazer um estrondo ao bater na parede. Corri para o lavabo e apenas me agachei, botando tudo para fora, chorando inevitavelmente pela urgência de tudo aquilo. *

De repente tudo mudou.
A calmaria havia passado, e meu sono havia sido interrompido com uma batida forte na porta do banheiro.
Sei que minha paz não duraria por muito mais tempo, mas eu nunca havia desejado tanto em minha vida poder dormir cinco minutos a mais.

Dei um pulo da cama, ainda meio grogue, cabelos e rosto amassado pelo travesseiro, sem enxergar nada.
Precisei esfregar os olhos umas boas vezes para perceber que ele não estava mais na minha cama.
E fora o mesmo que correra pro banheiro, com urgência...
O que diabos estava acontecendo? Por que ficar tão mal assim de repente?
Nada de muito importante na escola, para perturbar o menino desse jeito. Ao menos não aos meus olhos.

- Miki?... - perguntei, a voz rouca do sono, ainda grogue por ele. - Miki, você ta bem? - e quando não recebi resposta, acabei por me colocar de pé e ir em direção ao banheiro.

Lá estava ele, vomitando, e eu não entendia o por que.
O que tinha acontecido? O que estava acontecendo?

- Miki? - me aproximei, agachando a seu lado, lhe afagando as costas com carinho. - Bota tudo pra fora. É melhor assim...

* Não foi preciso ele dizer aquilo duas vezes, apenas continuei ali por um bom quarto de hora. Quando aquilo finalmente acabou dei a descarga no autoclismo e limpei a boca e o rosto com papel higiénico. O meu corpo tremia depois daquela experiência e eu estava suado, assustado com aquilo. *

- Haha... Haah... Que susto...! Haha... Não vomitava há anos... Desde criança...! Merda... Aaaaah... Já passou... Já passou... Está tudo bem... - * Mantinha os olhos fechados atrás das mãos enquanto tinha a cabeça virada para cima, deixando o sangue correr na direção certa e deixandomo ar circular mais facilmente pelos meus pulmões, para acalmar o meu corpo, e falando gentilmente aquelas palavras, num mantra, para acalmar a minha cabeça. Assim que conseguia respirar normalmente, engoli seco e abri os olhos, ganhando coragem para tirar as mãos da frente, olhando para o rosto do Nacchi, não muito longe do meu. Ambos calados, sem dizer nada, apenas olhando um para o outro, esperando um falar primeiro. Eu não conseguia, sentindo que, se começasse a falar, a minha garganta iria rasgar. Com isso lancei-me a ele e agarrei-o num abraço, afundando o rosto no seu ombro, esperando conseguir transmitir fosse o que fosse que era preciso dizer com aquilo. *

Eu só queria entender. Queria poder entender sem ele precisar dizer muito, mas não conseguia de maneira alguma...
De manhã cedo estava tudo completamente bem, e do nada ele começara a passar mal e surtar...
O que diabos estava acontecendo com ele? Queria ajudar, mas sem saber como ficava impossível...

Mesmo quando ele me abraçou, procurando por conforto, não pude fazer nada além de me sentir um completo inútil.
O que eu podia fazer além de abraçá-lo?
Nada...
Não conseguia nem me ajudar, quem dirá a ele...

- Ta tudo bem... Já passou, seja lá o que for isso... - continuei afagando suas costas, ambos sentados no chão frio sem dizer mais nada depois disso.

Simplesmente achava que o silêncio seria nosso melhor amigo numa situação dessas...

* Após alguns minutos afastei-me, sentando-me sobre os joelhos, melhor, esfregando os olhos nas mangas. *

- Desculpa... Eu só... Me assustei... Quando fico doente geralmente não passa de um pingo no nariz e tosse, imagina o que é isto... Ah, nem me lembrava do quão maunera, que horror! Bleeeeeergh! - * Fiz uma caretam logo suspirando. *

- Nacchi... Eu sei que te estou a preocupar, eu... Desculpa. Mas não se passa nada, apenas apanhei um vírus! Amanhã ou depois já vou estar em forma... Agradeço a preocupação... Mas... Eu nãl gosto quando te preocupas ASSIM... Ficas tenso... E eu quero te cuides! Afinal, nós... No fundo, no fundo, só temos um ao outro... - * Dei um ligeiro sorriso, mas um meio triste. O que eu tinha dito era a verdade. A dolorosa mas aconchegante verdade. Mordia ligeiramente o lábio por dentro, contendo-me para não chorar. Eu estava unido por fita-cola velha e, um deslize poderia fazer-me dizer algo que... Que me faria abraçar a próxima expulsão. *

No fundo ele deveria saber. Deveria me conhecer melhor do que ninguém.
Tinha certeza que ele percebia os sorrisos forçados, as vezes em que me pegava pensando, calado, e tentava disfarçar tudo isso.
Tenho certeza de que ele sabia muito mais do que deixava falar.
Não iria conseguir esconder por muito mais tempo...
Mas tentaria ao menos...

Me sentei no chão, de frente pra ele ahora.
Um sorriso reconfortante apareceu em meus lábios, aquele sincero, que ele sabia bem que eu tinha.
Meus olhos brilhavam, um tanto molhados também.

Ele achava que tínhamos apenas a nós mesmos, mas eu não achava assim.
Miki ainda tinha família. Tinha pessoas que realmente gostava dele. Masneu agradecia por ter a ele perto de mim...

- Não se preocupa com nada. A gente pode brigar as vezes, mas eu sei que você me ama e não vai largar do meu pé. - disse brincalhão esorridente. - Mas falando sério, não se preocupa comigo... Ta tudo bem...

* Suspirei levemente e assenti, forçando-me a pôr um ligeiro sorriso, ainda que só para me animar. *- Bom, se tu o dizes, não me resta mais nada a não ser confiar em ti... - * Disse, assentindo levemente com a cabeça, hábito respeitoso que sempre tive. *- Olha, devem vir buscar-me daqui a umas horas... Podemos comer algo entretanto? Como uma sopa, ou assim... Acho que vai fazer-nos bem! - * Estiquei os braços para cima, agarrando nos seus pulsos e ele nos meus, sendo puxado para cima. Após isso coloquei-me ao fogão e coloquei uma panela com água a ferver, ditando lá dentro um pacote de sopa instantânea para comermos. *

Ficava feliz que ele finalmente havia decidido sorrir.
Por um tempo achei que ele ficaria mal uns bons dias, mas pelo jeito acabou melhorando antes do previsto.
Agora era descansar um tempo e melhorar 100%.

Me levantei segurando nele e vice-versa, aonda com aquele sorriso nos lábios difícil de esconder agora.
Pea dizer a verdade eu me obrigaria a comer qualquer coisa, pois sonceramente meh estômago vinha falhando comigo nos últimos dias.

- Quer que eu ajude em alguma coisa? - perguntei, me sentando na beirada da cama enquanto o olhava na pequena cozinha embutia em meu quarto. - Não sei se to com muita fome no entanto, mas você precisa comer alguma coisa. Eu preparo pra você, vai deitar mais um pouquinho. - me levantei, indo direto pra panela pra mexer a sopa.

* Sorri levemente e assenti, afastando-me do fogão e deitando-me na sua cama, ficandomquieto, mas sem dormir. *

Tanta coisa se passava em minha cabeça naquele momento.
Eram coisas demais pra dizer a verdade. Coisas que eu não entendia, ou que eu lutava contra...

Miki tinha problemas assim como todo mundo, fosse em casa, na escola, pessoais ou não, ee tinha problemas, mas ainda assim parecia sorrir tão naturalmente, como se não visse gravidade em nenhum deles.
Mesmo estando doente, passando mal, mesmo tendo medo, eu sei lá... Parecia que ele era tão forte para lidar com tudo isso. Parecia que nada o fazia ter medo, parecia que nada podia abalar o garoto.
Enquanto a mim, meus problemas nem eram assim tão graves. E eu apenas não conseguia lidar com eles corretamente...
Era como se todos os pequenos problemas se juntassem para formar um maior, um que me sufocava e me matava aos poucos.
Sinceramente, no fundo do meu coração, me sentia morto por dentro. Podia sorrir do lado de fora, podia tentar ser feliz, ao menos aparentemente, mas, nada conseguia me alegrar de verdade, nada conseguia me fazer sentir vivo de novo.
Talvez apenas meu corpo se recusava a morrer ainda, mas talvez, apenas talvez, eu precisasse matá-lo aos poucos...

- Oh. - meus pensamentos foram dispersos quando a sopa ferveu, espirrando um pouco em minha mão, que ardeu rapidamente. - acho que já está bom. - disse, calmaria presente em minha voz.

De imediato peguei duas tigelas, duas colheres e servi mais pra ele do que pra mim.
Eu ao menos precisava tentar comer alguma coisa, mesmo estando com medo de vomitar tudo depois.

- Aqui. Come um pouco, vai te fazer bem. Depois tem que tomar um remédio ok? Até eles chegarem pode ficar aqui e descansar. - dizia, sempre com aquele sorriso nos lábios, tranquilidade no ollhar. - Me desculpa por estar agindo estranho depois de tudo aquilo. É que eu fiquei preocupado contigo, e não sabia muito bem o que fazer. Haha. - ro meio bobo, me sentando a seu lado na cama.