Floresta do Pessegueiro

Eu apenas corria, sabia que já tinha sonhado com aquele lugar... (parecia um sonho...) levei Adrien agarrado a mim, Jardim após Jardim até chegar à Floresta do Pessegueiro, ficava mesmo no limite da escola e, desde que cá cheguei sempre tinha olhado para o lado escuro dela. Continuei a correr.

-Adrien! *coloquei o braço de frente para os ramos e folhas não baterem nas nossas caras enquanto lhe agarrava o pulso para não o perder* Posso dizer uma estupidez?

E foi então que, estiquei o braço e senti a folhagem terminar...

A cada passo que dava eu admirava esse lugar que nunca suspeitei existir, era tão escuro e bonito. Prestava atenção no ambiente e em Okino para não o perder, mas não conseguia não ficar fascinado e se identificar com o local, era realmente encantador estar ali, com esse rapaz que acabo de conhecer e mesmo assim me faz estranhamente bem.
Logo parei de viajar em minha mente e o ouvi falar comigo.

-Hum, mesmo que eu duvide que você vá falar algo estúpido, sim, pode dizer o que quiser.

Senti o rapaz parar de correr então logo em seguida também o fiz, fiquei surpreso com cenário que estava diante dos meus olhos, era espetacular...

-Oh Adrien... *subi para uma ponte de madeira, fechei os olhos e tentei ouvir os sons da Floresta* É maravilhoso! *sorri intensamente como nunca o tinha feito antes*, consegues ouvir? *disse olhando para cima* Parece que fala connosco!

Fiquei por momentos perdido, eu e a Floresta tornamo-nos num só. Nunca tinha visto nada tão mágico... (é lindo) ... olhei para Adrien e estiquei o braço.

-Venha ver! *disse com aquele meu sorriso* É encantador...

Parei para ouvir aqueles sons e sentir a brisa da floresta e com certeza era magnifico, realmente parecia que falava conosco, e la no fundo, acho que entendia a mensagem que estava sendo passada. Logo o sorriso dele me contagiou.
Segurei sua mão carinhosamente e passei a aproveitar aquele momento.

-Obrigado, nunca ao longo da minha vida tinha me sentido assim, obrigado. *Sorriu virando sou olhar para baixo*

Sentia-me acabado de flutuar num rio de água gelada, e Adrien era a pessoa que me aquecia, senti a mão dele a agarrar a minha e ouvi ele falar... (oh Adrien, nem eu...) pensava. Levantei a mão e inclinei-lhe a cabeça para cima. Fechei os olhos e dei-lhe um beijo na testa. Depois desci a cabeça, olhei nos olhos dele.

-Adrien... *disse perdendo o sorriso, mas sentido toda aquela felicidade* Me fale de você...

Fiquei por um bom tempo pensativo se eu falava a sobre sobre minha vida, talvez ele não gostasse de ouvir e assim eu estragaria esse momento que estava sendo praticamente perfeito.

-Não acho que você vá gostar de ouvir minha história, Oki... *Olhei diretamente em seus olhos ainda segurando sua mão* -Não tive uma vida muito feliz, e nem de longe interessante.

Olhei nos olhos dele, o que ele dizia fazia sentido para mim... (eu sei o que isso é...). Mas queria ouvir, queria estar ao lado dele e apoia-lo no que fosse preciso... (quero-te) eu estava aqui...

-Teste-me. *disse não piscando os olhos*

Notei que ele me faria falar mesmo que eu negasse, eu sabia que ele não gostaria de ouvir, nunca fui de me abrir com ninguém ou comentar sobre problemas que eu já tive, mas como tudo com ele já tem sido diferente do que estou acostumado, logo eu faria o que ele queria.

-Eu nasci na Áustria, desde de moleque sou visto como "o problemático", sempre fui diferente de todo mundo, apesar de ser alguém inteligente nunca fui reconhecido nem mesmo pela minha família, se é que posso chamar de família aquelas pessoas que me ignoravam e humilhavam. *Desviei o olhar para outro lado para que ele não percebesse minha fraqueza ao falar.* - Com uns 12 anos comecei a fumar e essa foi a oportunidade de ser posto para fora daquela casa, fui morar com uma professora do colégio que eu estudava que só me levou por pura 'pena', ela também não era um doce. Já tive diversas doenças que em meu lugar outras pessoas já estaria mortas, mas como diz o ditado, vaso ruim não quebra, então passei a estudar mais do que o normal pra realmente ser alguém e notei que isso me fez ser menos 'pessoa' do que eu já era, o que pude fazer é passar a ignorar o mundo e desprezar a opinião de terceiros. *Olhei para Okino* -É isso, desculpe .

Senti cada palavra me tocar como se eu próprio tivesse experienciado todas aquelas vivências. Reparei que era um assunto frustante para ele, mas tinha que demonstrar que o pior já tinha passado... (estou aqui para ti...) Olhei nos olhos dele agarrei na mão dele, puxei-o até mim e beijei-o.

-Ainda bem que me contaste... *disse sorrindo* Agora eu estou aqui...

Eu sabia o que era ter solidão e poucos amigos por isso um pouco da minha vida se refletia na dele...

-Quando os passaros pararem de cantar, quando o sol parar de nascer e quando o vento parar de soprar, aí sim, não terás razões para viver. *abracei-o* Enquanto os passaros cantarem, o sol nascer e o vento soprar, terás um pouco de mim.

Fiquei surpreso pela reação dele ser diferente da que eu pensei que seria, era bom, estava me sentindo querido, com certeza não quero perdê-lo.

*Um sorriso invadiu meu rosto e então o puxei forte para meus braços e o abracei*

-Obrigado por isso, Oki.

Não era preciso dizer nada naquele momento... senti as palavras dele e respondi na minha mente (não agradeças por isso...) apenas me sentia em segurança. Conseguia ouvir o bater do coração dele, e essas vibrações faziam-me bem. Aquelas minhas memórias antigas também ficaram guardadas. Já não me assombravam mais.

*dei um sorriso* - Como te tornaste tão querido?

Estar naquele lugar magnifico, com alguém tão especial era algo que nunca pensei que aconteceria na minha vida, quero eternizar esse momento...

-Acho que nada mais justo do que você me contar sobre você, já que fiz você aguentar minha história chata de vida. *Olhei sorrindo para ele*

Fiquei algum tempo a olhar nos olhos dele. Pensei nas memórias antigas e abri o baú das recordações... afastei-me um pouco e olhei para o rio que passava debaixo da ponte (itta...)

-Bem... *disse olhando para o meu reflexo na água*... não fui desejado quando nasci e por isso os meus pais deixaram-me em casa dos meus avós. Alguns anos mais tarde soube que tinham ambos morrido num acidente de avião, não sabia se haveria de rir ou de chorar... o tempo foi passando e os meus únicos amigos eram os animais selvagens que desenhava dia após dia nas florestas... Meu avô morreu, e o amor era tanto que não conseguiam viver um sem o outro... Comecei a viver nas ruas até ser apanhado pela polícia... E foi aí que, descobri ter um tio.

*soltei uma lágrima...*

-... Eu pensava estar seguro, afinal, ele tinha o meu sangue e eu o dele. Mas estava enganado... Na primeira noite em que dormi na sua mansão acordei assustado, olhei em frente e vi o meu tio com uma faca na mão... ele parecia assustado... Senti frio e dor, e quando olhei para as almofadas e para o cobertor que me cobria, vi o meu sangue.

*baixei a gola alta da camisola e mostrei a cicatriz do meu pescoço*

-Mesmo assim agradeço por isso... são as cicatrizes que demonstram que somos fortes...

*dei um sorriso e fiquei de frente para ele*

-Amo-te.

Senti as palavras dele pesarem em mim tanto quanto minha recordações pesam, (As lembranças dele são tão ruins quanto as minhas...), me sinto mal por fazê-lo lembrar dessas coisas ao me contar, agora minha vontade era só de fazê-lo esquecer recordações ruins e colocar no lugar novas boas lembranças.

-Desculpe por fazê-lo se lembrar dessas coisas, meu querido. *Levei minha mão ao seu rosto e limpei a lágrima que escorria pelo seu rosto* Já é a segunda lágrima que limpo desse seu rostinho. *sorri gentilmente para dar um ar mais descontraído.* Mesmo que eu não tenha uma cicatriz externa, dentro de mim há milhares delas e eu entendo você.

*Beijei seu rosto*

Adrien não me parava de surpreender, sentia-o...

-Lindo... *disse olhando nos seus olhos e dando um grande sorriso* Não faz mal lembrar. Não voltará a acontecer. Agora tudo será diferente.

Ao longe no ramo de uma arvore, um vagalume surgiu. E de repente vários vinham em nossa direção.

-Estás a sentir? É a Floresta... *beijei-o*

À nossa volta criou-se um redemoinho de vagalumes, nunha tinha experienciado nada assim. Nos olhos de Adrien conseguia ver o reflexo das suas luzes. (vamos andar), dei-lhe a minha mão e passo após passo fomos andando pela ponte...

-Vamos ver onde isto vai dar *olhei para ele e sorri de olhos fechados*

Não sabia se ficava encantado com os vaga-lumes dando aquele ar mágico e sobrenatural ao momento ou seguia os passos dele, pensei se aquilo realmente estava acontecendo ou era só mais uma peça que minha mente insiste em pregar.

-Com você vou a qualquer lugar... *Falei sorrindo e passando a mão nas madeixas avermelhadas do rapaz, despenteando-o*

Olhei para Adrien e depois para o rio, mesmo ao nosso lado, vi uma parte fundo e, de repente soltei a mão de Adrien e atirei-me lá para dentro. Estava quente, tal como esperava, pelo fumo que via sair da água. Fiquei a flutuar mexendo os braços e as pernas calmamente. Dei uma grande gargalhada quando vi a reação de Adrien.

-Anda? *ria-me perdidamente* Que foi? Medo? *enchi a boca de água e atirei para ele, ficou com a cara ensopada*

Realmente não esperava por aquilo, a ação de Okino foi tão espontânea que demorei um tento pra cair a ficha que ele realmente tinha pulado com roupa e tudo em um rio que não conhecia antes, quando realmente notei que estava tudo bem com ele passei a gargalhar da situação olhando para aquele rapaz que parecia se divertir no rio.

-Eu não esperava por essa... *Sorria olhando para ele.* Vai ver o medo.

Me atirei no rio logo em seguida, a água realmente estava ótima .

Atirava-lhe água sem ele se aperceber e sorrateiramente empurrei-lhe para baixo. Já há muito que não me divertia.

-Ha-ha! *disse às gargalhadas* Afinal vieste! *fui a nado até ele e dei-lhe um beijo* Não sei há quanto tempo estamos aqui, mas se anoitecer eu penso que não iremos notar! Não quero mais que este momento pare.

Fazia muito tempo que não parava em um lugar para se divertir, questão de muitos anos. Estava gostando de mais daquela companhia e daquele lugar, era tudo muito especial. Ao decorrer do momento enquanto Okino me jogava água, eu também jogava água nele e percebi que realmente nunca tinha estado tão feliz.

-Você é mesmo real, Oki? *Puxei-lhe pela mão para que ficasse bem perto de mim.*

Os meus cabelos estavam molhados e, podia sentir a água escorrer pelo meu rosto e pingando pelo meu nariz. Ouvi as suas doces palavras. Coloquei meu braço atrás do seu pescoço e fiquei frente a frente para ele.

-Eu estou aqui não estou... *e sem pronunciar mais nada toquei meus lábios nos dele com a outra mão toquei no seu peito para sentir o seu coração bater*

Estava tudo tão bom, esse dia sem dúvida teria sido o melhor da minha vida, nunca senti isso antes. (Será que estou pela primeira vez ... me apaixonando?)

*Correspondi o beijo, levando minhas mãos a sua cintura, o puxando para o mais perto possível de mim, senti-lo comigo era tudo que eu queria naquele momento.*

Continuei a beijá-lo, como se o mundo fosse acabar hoje...

Adrien...:

Prolonguei o beijo ao máximo, a boca desse rapaz era tão doce e pode-se dizer também que era viciante, mas em um momento o ar se fez necessário, cessando temporariamente o beijo.

*O olhei intensamente nos olhos e dei um sorriso de canto*

Fiquei a olhar para ele, o mundo parou.

-O que queres fazer agora? *disse sorrindo*