Quarto número 100.

Relembrando a primeira mensagem :

A dias eu procurava um lugar pra morar, mas com o dinheiro que ganhava no meu novo "emprego" não conseguia arranjar mais do que uma quitinete.
Com sorte, a escola tinha aberto algumas vagas para estudantes e, bom, era bem barato e exatamente onde eu precisava estar.

- Hum, é aqui. - olhei o número na porta - Finalmente. - suspirei, guardando o papel que segurava no bolso, destrancando a porta e levando minha única mala pra dentro.

O quarto era espaçoso, tinha uma pequena cozinha embutida e um banheiro.
Pra mim não seria problema, pois sabia me virar muito bem.
Coloquei minhas coisas na cama, e fui logo abrir as janelas para arejar o lugar.
Estava tudo tão quieto que eu mal podia acreditar. Era tão tranquilo ficar longe daqueles loucos. Esperava não vê-los por um bom tempo...

*o monstro no meu exterior tentou agir com um movimento rápido mas, felizmente e finalmente, o meu eu verdadeiro conseguiu vencer apenas com aquele contacto que me deu a força necessária*-Tetsuya-san..*Disse trémulo após devolver sem forças o beijo. Lutava para que não desmaiasse ali mesmo, para que não acontecesse ainda outra coisa pior*-D-desculpa..*Foi a única coisa que consegui dizer antes de perder os sentidos nos seus braços*

Misaki simplesmente apagou em meus braços... Eu... Não sabia o que fazer, tudo aquilo era loucura demais pra minha cabeça...
O corredor, todo sujo de sangue, os corpos, ele desmaiado ali... Droga, o que eu ia fazer?!

- Ok, calma, respira... - falei pra mim mesmo, tentando me controlar, o que era quase impossível de se fazer.

Eu estava surtando! Estava surtando, aquilo não podia acontecer comigo, não podia, não podia, meu Deus, o que eu faria?! O que eu iria dizer aos outros, o que eu ia fazer com aqueles corpos!?
Olhei no relógio imediatamente e por muita sorte ainda faltava muito para o término das aulas.

- Ok, é agora que você prova o quão bom era em corrida... - falei pra mim mesmo e coloquei Misaki nas costas, como uma criança.

Contei até três e disparei, correndo pelos corredores até estar nos dormitórios e na frente de meu quarto.
Em menos de cinco segundos a porta estava aberta, Misaki estava na cama, e eu, de volta aos corredores, correndo como louco.
Agora vinha a pior parte... Aqueles corpos... Meu Deus o que faria?...

*Continuava ainda apagado nos braços dele enquanto ele corria pelos corredores que mais pareciam banheiras de sangue e corpos mortos. Estava exausto mas aos poucos, já na cama, ia recuperando os sentidos e tentando normalizar a respiração criticamente ofegante, não que eu precisasse realmente de respirar como um ser humano normal mas o meu corpo precisava disso. Acordei aos poucos e corri o quarto à procura do maior que parecia tão instável momentos antes, pensei o pior, e parti para correr até aos corredores vazios, apenas os corpos sem vida. Após ouvir pesados passos uns corredores à frente teletransportem-me até eles e deu de caras com Tetsuya-san que quase caiu ao me ver na sua frente*-Onde vais? *Disse agora com a voz calma e inocente, o rosto puro e claro que o olhavam com ternura..nada comparado ao monstro de antes*

Estava tão desnorteado com tudo que mal percebi quando alguém apareceu na minha frente.
Pra não esbarrar na pessoa, eu parei imediatamente, o som da borracha do tênis raspando no piso.
Droga... Se alguém estava ali com certeza tinha visto os corpos, e com certeza eu estava ferrado... Misaki também... Droga o que eu...

- Huh?... - me forcei a abrir os olhos, até então bem fechados por puro medo, mas quem dera não os tivesse aberyo... - M-M-Misaki... - minhas pernas amoleceram, me fazendo cair de joelhos.

Estava com medo dele. Não achei que ele iria acordar tão rapidamente...

Hum? *Surpreendi-me com a sua expressão amedrontada e levei as frágeis mãos à sua cintura para o abraçar inocentemente. Eu lembrava-me perfeitamente do que tinha acontecido, incluindo quando o ataquei, mas tentava ao máximo deixar esses pensamentos de lado e continuar com aquele sorriso feliz no rosto ainda levemente manchado de sangue e com olheiras profundas debaixo dos olhos cansados e ligeiramente vermelhos*-Anda. Eu sei de um sítio para esconder os corpos. *Segurei na mão e, pela primeira vez, disse aquilo da mesma forma inocente e comecei a correr e a rir enquanto saltava por cima dos corpos mortos.
Eu tinha total controlo sobre mim mas a minha sanidade não estava nem um pouco assegurada*

Eu ouvia a voz tranquila dele, falando sobre esconder os corpos como se não fossem nada. Como se tivéssemos acidentalmente matado um cãozinho e fossemos esconder o animal, mas... Aqueles eram corpos humanos... Eram corpos no quais ele havia arrancado os corações... Como podia estar tão calmo assim?

- Ah... M-Misa... - antes que pudesse o questionar sobre alguma coisa, ele já pulava felizmente sobre os corpos, como uma criança brincando de ciranda.

Aquilo não estava certo... O menino estava fora de si. Aquele não era o Misaki que eu havia conhecido, não era, de maneira nenhuma...
Me levantei, sem expressão no rosto. Talvez eu mesmo estivesse ficando louco... Haha...
Caminhei até ele, pegando os corpos do chão como se não fossem nada, então coloquei o menor por cima dos ombros e o maior eu tentava segurar nos braços.

- Me mostre o caminho... - falei.

Me cobria de sangue, o cheiro de sangue impregnava o ar, mas, eu parecia não me importar mais. Meu cérebro parecia ter dado um curto circuito.
Tinha parado de raciocinar normalmente, e liguei o "bloqueio" dentro de minha cabeça, como sempre fazia quando algo muito traumatizante acontecia. Era como se um painel feliz e bonitinho cobrisse a carnificina em volta.
Contanto que Misaki ficasse feliz, eu também ficaria...

*Ri e assenti, continuei a correr pelos corredores*-Mas...Tetsuya-san..então e estes? *Disse com um biquinho e, feito isso, abri a porta de uma sala de aula qualquer. Esta estava totalmente coberta de corpos, um deles preso na ventoinha no teto inclusive, as janelas partidas e os cacos caídos sobre os rostos de dois deles. Olhei como se não fosse nada, como se a sala não tresandasse a sangue e carniça*

Ao olhar pra dentro daquela sala, meu chão simplesmente se abriu...
Os corpos que eu carregava simplesmente escaparam de minhas mãos, e eu caí de joelhos no chão, olhando horrorizado toda aquela cena...
Aquilo eram corpos de verdade... Tripas de verdade, cabeças, órgãos espalhados por todos os lados... Como era possível, meu Deus?...

- Haha... - eu comecei a rir, sem saber de onde vinha aquela risada. - Hahahahaha... Ahahahahaha! Minha nossa! Minha nossa, minha nossa! - me encolhi um pouco no lugar, não desgrudando o olhar daquele desastre.

Eu não sei o que deu em mim, mas, eu simplesmente arranquei o celular do bolso e comecei a tirar... Fotos... De toda aquela merda.
Acho que queria deixar guardado pra sempre o momento em que fodi minha vida...

*Suspirei como se não fosse nada quando o vi rir, desabar e praticamente agir como se estivesse tão insano como eu. Não era essa a minha intenção, tão pouco era a do monstro. A insanidade não vale de nada, apenas para atrapalhar ainda mais. Deixei a porta da sala entreaberta e aproximei-me dele com uma expressão vazia mas não totalmente morta como antes. Arranquei o telemóvel das duas mãos e atirei-o sensivelmente para fora da janela*-Tetsuya-san...*Coloquei a mão gentilmente no seu ombro. A minha voz saiu como se tivesse pena, como se o quisesse ajudar mas o que realmente saiu a seguir destruiu completamente essa aura*-Concentra-te..*Pedi seriamente fechando agora totalmente a porta da sala. Havia ainda muito para mostrar mas receava que ele não aguentasse. Mas, de certo, o pior ainda estaria por vir*

- Ahaha, tá bom... - enchuguei uma lágrima que escorria do rosto, mas o mesmo se manchou de sangue. - Concentrar... Tudo bem... Preciso me concentrar... - me levantei do chão ainda tremendo um pouco.

Eu... Não sabia o que fazer... Que merda toda era aquela, eu não podia explicar, pra falar a verdade.
Era insano, era completamente insano, mas claro. Seria muito simples nos livrar daquilo tudo...

- O que... Quer que eu faça?... - perguntei agora mais calmo, ainda com um sorriso estampado.

*Observava-o de cima a baixo com um sorriso com malícia disfarçada. Adentrei a sala sangrenta e abri a arrecadação com rapidez e precaução. Tirei de lá isqueiros, fósforos e uma garrafa que parecia água..mas não era. Atirei aquilo para as mãos dele e assenti. A minha ideia era queimar os corpos e sair ileso, talvez até dá-los para cães vadios caso não funcionasse. A garrafa estava cheia de nada mais nada menos que um litro de gasolina, algo que arderia muito facilmente*

Tomei aqueles objetos em mãos e entendi na hora o que ele queria que eu fizesse. Estava na cara...
Sem questionar, puxei os dois corpos para denteo da sala, e os joguei juntos aos outros. Esperava que aquilo queimasse pra valer, caso contrário estaríamos ferrados...

- Tem certeza que isso é tudo? - suspirei, limpando o suoe da testa, como se aquilo fosse um simples dia de trabalho pesado. - Por que olhando pra você, não me parece que esses pobres coitados foram os únicos...

*Suspirei enquanto empilhava os inúmeros corpos no meio da sala, olhei-o seriamente e fui para perto dele*-Por aqui sim..*Respondi friamente com a mesma aura de antes mas não tão intenso. Deixei-o ali, considerando que ele sabia o que fazer, e fui inspeccionar os corredores à procura de outros possíveis polícias*

Eu sabia. É claro que aqueles não seriam os únicos... Haha, eu... Estava dando fim a cadáveres... Iria queimar corpos de pessoas... Isso era pra valer. Era simplesmente incrível...
Dei alguns passos, sentindo o tênis grudando no chão por causa do sangue, então abri a garrafa e espalhei seu conteudo por cima dos corpos ensanguentados. Tomei um fósforo em mãos e ascendi, o jogando no chão.
Tudo começou a queimar imediatamente, então eu simplesmente saí e fechei a porta atrás de mim.

- O que?... - escutei uma vozinha fina e trêmula falar, e quando olho pro lado, uma garota.

- Olá. - olhei pra ela, com um sorriso cansado.

Eu teria de dar um jeito nisso...

*Sorri maliciosamente ao sentir o cheiros dos corpos mortos queimar e o cheiro de sangue impregnado no ar mesmo que estivesse longe do local do incêndio. Teletransportem-me para perto de sala novamente e tranquei a porta que já quase queimava também. Avistei a menina e fui-me aproximando lentamente na frente do maior*

A garota tremia, quase caindo no chão. Suas pernas pareciam querer ceder, ainda mais depois de avistar o menor, que apareceu de repente no corredor.
Eu apenas olhei para Misaki, com uma expressão terrivelmente cansada. Queria acabar com tudo aquilo logo...

- Misa... O que devemos fazer com ela?... - perguntei, num suspiro.

A menina ia se afastando e se afastando, mas, parecia não poder correr de tão aterrorizada.
Ela tapou a boca ao sentir o cheiro pútrido dos corpos queimando, mas pra falar a verdade, aquilo também me incomodava. Logo o alarme de incêndio iria soar, então tínhamos que agir logo.

*Continuei a aproximar-me por mais que ela se quisesse afastar e fugir. O seu olhar aterrorizado e as suas súplicas baixas eram melodias para os ouvidos insanos do monstro que, mais uma vez, lutava para me controlar e aos poucos realmente conseguia*-Ela já viu demais..*Os meus olhos cansados mais uma vez se tornaram negros e frios e com um movimento rápido e preciso abri a porta da sala e atirei a menina ainda viva lá para dentro num dos meus habituais toques psíquicos. Logo o alarme de incêndio começou a tocar*-Vamos..

Pude ouvir os gritos agonizantes da garota... Ela estava sendo queimada viva... Ela estava sendo queimada viva, na minha frente...
Em poucos segundos, vi a garota batendo contra o vidro da porta, seu rosto já desfigurado e seu cabelo em pura chamas.
Meu Deus... O que eu estava fazendo?... O que havia de errado comigo?...
Eu tapei os ouvidos, me encolhendo nos próprios ombros, e segui Misaki pra onde quer que ele fosse agora.
Apenas queria sair dali, o mais rápido possível. Queria me afastar, queria tirar aquele sangue que me sujava e aquele maldito cheiro de carne queimando.
Meu corpo todo parecia estar impregnado com aquele maldito cheiro asqueroso, mas tinha certeza que nem mesmo com um milhão de banhos, aquela memória não sairia de minha cabeça nunca mais...

*Caminhava pelos corredores como se nada fosse, olhava para todas as esquinas para ter a certeza de que o nosso caminho era seguro. Havia muitos outros corpos nomeadamente professores e até o diretor do colegio que se metera no meio da confusão e acabou na pilha de carne morta*-Por aqui..*Puxei o braço dele e puxei-o para uma arrecadação quando ouvi de longe as primeiras sirenes da polícia..aquela menina devia ter os avisado..o meu fim com certeza. Tranquei a porta do local escuro, ligeiramente trémulo*

- Misaki, o que tem aqui?... - perguntei sem muito entender.

Via que ele tremia incontrolavelmente, então fiz a primeira coisa que me veio a cabeça.
Eu o tomei em meus braços, o apertando contra meu peito de forma carinhosa. Queria protege-lo... Iria fazer o necessário pra isso...

- Shhh, meu pequeno... Não se preocupe... Vai ficar tudo bem... - passava as mãos em seu cabelo.

*abraçava-o com força, procurando a proteção e segurança que realmente precisava naquele momento. O momento em que todo o meu ser desabava, não por estar prestes a ser apanhado mas por me ter finalmente dado conta do sucedido, do que eu próprio tinha feito...com as minhas próprias mãos que agora o seguravam com força*-Tetsuya-san...h-há uma saída de emergência da escola aqui mesmo..S-se a polícia aparecer, prometes-me que sais em segurança antes de o fogo se alastrar? E de eles aparecerem? *olhava-o com súplica, dor e lágrimas que apesar do escuro cerrado eram possíveis de ver de tão cristalinas e puras que eram. De tão verdadeiras que eram*

- Eu não vou sair... Não vou deixar você, como disse que nunca faria... Se algo de ruim tiver de acontecer, vai acontecer a ambos, por que eu não vou deixar seu lado, Misaki... - segurei no pequeno rosto, que parecia tão inocente agora.

Os olhos cheios d'água do pequeno me davam um aperto enorme no coração.
Aquilo não era justo com ele, nem comigo... Não precisava terminar assim, tinha um jeito...

- Eu sei como podemos sair daqui, ilesos... - sorri de um modo estranho, que nem mesmo eu entendia, então beijei a boca do menor ternamente, podendo sentir o gosto de sangue. - Se fingirmos sermos vítimas... Podemos enganar a qualquer um...

*Assenti trémulo e tentei sem sucesso parar as lágrimas sentidas e dolorosas. Essa era a minha ideia desde o princípio, infiltrar-me nas vítimas e poder sair sem qualquer problema. Poderia ser arriscado mas parecia ser a opção mais segura. Ouvi desde o lado de fora as sirenes altas da polícia se aproximarem-me mais e mais da escola que, neste momento, já estaria livre do fogo mas ainda tresandava a sangue e desastre.*-V-vamos...*Pedi e saí rapidamente da arrecadação. Levei-o até a um outro local cheio de corpos*

Peguei em sua mão e novamente saímos para os corredores vazios.
O barulho do alarme estava a me dar dor de cabeça, mas eu não tive tempo de pensar muito nisso, pois assim que Misaki abriu a porta, me deparei com mais um mar de corpos.
Nada mais me surpreendia...

- O que vamos fazer com esses?... - perguntei sem emoção alguma.

Com esses nada..já não há nada que possamos fazer..*suspirei e sentei-me numa das cadeiras da sala sangrenta e repleto de corpos brutalmente assassinados*-Temos de arranjar uma forma de parecermos vítimas..*com isto levantei-me e fui até ao armário da sala que, apesar de trancado, abri com facilidade. Tirei de lá uma lâminas de X ato e entreguei-lhas*